domingo, 22 de dezembro de 2013

Em que sentido Cristo foi tentado? Uma reflexão!


Inicio esta reflexão com uma pergunta: Será que a tentação de Cristo no deserto serve de modelo para a nossa tentação diária? Em que sentido?

A cristandade de modo geral aponta a tentação de Cristo como um suposto modelo para a tentação dos cristãos por Satanás. Mas, paradoxalmente, reconhecem, mesmo que implicitamente, que nenhum cristão jamais experimentou uma tentação de igual nível.

Um ponto importante a ser destacado é que nos relatos sinóticos da tentação, os textos nos dão algumas informações que na atualidade os cristãos passam ao largo, sem nenhuma percepção. Comparem:

1 - Mateus 4:1,2 (AA) - Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome.


2 - Lucas 4:2,3Jesus, pois, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão; e era levado pelo Espírito no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo Diabo. E naqueles dias não comeu coisa alguma; e terminados eles, teve fome.


3 - Marcos 1:12,13Imediatamente o Espírito o impeliu para o deserto. E esteve no deserto quarenta dias sendo tentado por Satanás; estava entre as feras, e os anjos o serviam.



Mateus parece nos dizer que a tentação só começou após os 40 dias. Compreendam que o advérbio "depois" indica tempo da ação ocorrida. 

Os textos de Lucas e de Marcos se complementam e informam que a tentação ocorreu "durante" os 40 dias que Cristo esteve no deserto. Ou seja, podemos deduzir que Cristo não se ausentou do deserto enquanto sofreu a tentação.


Estes textos são ricos em detalhes que se fossem apresentados aqui demandaria muito espaço e mais produção de textos explicativos. O que pretendo, porém, é focar apenas em dois pontos

1 - Que Cristo não se ausentou do deserto durante a tentação;
2 - Que esta tentação não foi feita por um ser sobrenatural.

Entendam bem que não estou "negando" a tentação de Cristo por "satanás". Estou "negando" que este "satanás" teria sido o anjo rebelde que caiu do céu e exporei minhas razões.

Muitos lêem e eu mesmo já fiz essa leitura do texto, sempre entendendo que na sequencia do relato os evangelistas mostram que Jesus vai a diversos lugares sendo levado por Satanás. Mas, se entendermos dessa forma, o contexto fica sem sentido. E por quê?

Ora, Se Jesus "não" se ausentou do deserto (compare os 3 relatos acima), como poderia ter sido levado ao "pináculo do templo em Jerusalém" e  ao "monte muito alto", onde viu todos os reinos do mundo?

Reflita por um instante, que distancia aproximada teria do deserto da Judéia onde Cristo estava, até o templo de Jerusalém? Você como cristão admitiria que Deus permitiu ao seu maior inimigo carregar o Seu próprio Filho nesta distancia? Será que ninguém em Jerusalém teria presenciado tal fato?

Reflita por um instante, que "montanha" elevada seria esta, onde de seu topo Cristo poderia contemplar de um relance, todos os reinos do mundo? Sem contar, é claro, que o suposto anjo tentador oferece a Jesus algo que não lhe pertenceu? Onde está escrito que os reinos do mundo pertencem ao anjo do mal? 

O livro de Hebreus mostra um notável paralelo entre a humanidade de Cristo e a nossa em profunda relação de natureza. Se o processo de tentação de Cristo fosse diferente do nosso, ou o nosso fosse diferente do de Cristo, ele jamais poderia ser qualificado como nosso Sacerdote. 

Veja abaixo os dois relatos de Hebreus:

Hebreus 2:17,18 - Pelo que convinha que em tudo fosse feito semelhante a seus irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e fiel nas coisas concernentes a Deus, a fim de fazer propiciação pelos pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.


Hebreus 4:15 - Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.



Hebreus 2:17,18 diz que Cristo sofreu a tentação, a fim de identificar-se com a nossa tentação e Hebreus 4:15 afirma claramente que o processo da tentação de Cristo era idêntico ao nosso (como nós, em tudo foi tentado). 


Estas declarações não podem ser verdade, se Cristo foi tentado pelo diabo, de forma totalmente diferente do processo da tentação a que estamos sujeitos. 
Se o ponto de vista "ortodoxo" de satanás for verdade, então devemos experimentar o mesmo processo da tentação como se supõe ter ocorrido com Cristo - um ser sobrenatural literal e visível que vem até nós e nos atrai em uma conversa, num esforço para nos levar ao pecado. É fato que se tivermos que cumprir as escrituras, neste sentido nossa vida ficaria defeituosa.

Considere também o seguinte: Por que Cristo acharia atraente um tipo de tentação como o cristianismo ortodoxo ensina? Sabendo que diante de si estava um anjo mal induzindo-o a errar, ele realmente sucumbiria diante desta tentação? Conhecendo que "o anjo mal" está diante de você querendo tentá-lo, você cairá diante dos argumentos dele? 


Duncan Heaster, em seu livro - The Real Devil -  nos informa o seguinte:

"Parece improvável que várias vezes o diabo tenha levado Jesus através do deserto e nas ruas de Jerusalém e depois escalado o pináculo do templo juntos, tudo em vista dos judeus curiosos. Josefo não faz registro de nada parecido com isso acontecendo e provavelmente teria causado uma grande celeuma. 

Da mesma forma, se essas tentações ocorreram várias vezes no prazo de 40 dias, bem como no final desse período (o que ocorreu pelo menos duas vezes, Mateus e Lucas os tem em ordem diferente), como é que Jesus teve tempo para subir a montanha mais alta ( o diabo "levou" Jesus, que poderia ter sido o monte Hermon, no extremo norte de Israel), escalando até o topo e voltando ao deserto novamente? 
Todas as tentações ocorreram no deserto e lá permaneceu por 40 dias - Ele estava lá durante quarenta dias, sendo tentado o tempo todo pelo diabo (ele só saiu no final -. Mateus 4:11). Se Jesus foi tentado pelo diabo a cada dia, e as tentações só ocorreram no deserto, então segue-se que Jesus não poderia ter deixado o deserto para ir a Jerusalém ou percorrido uma alta montanha. Estas coisas, portanto, não poderiam  ter literalmente acontecido com Cristo".

O que as pessoas não compreenderam ainda, é que todo o processo de tentação que o ser humano sofre está na dimensão pessoal, psicológica. Não existe tentação que não proceda de dentro de você e que para ser completa, ela precisa encontrar resposta dentro de você, a priori.
O próprio Jesus ensina que de dentro do coração (mente) dos homens procedem toda espécie de males: 

Faça uma leitura atenta destes dois textos abaixo e veja quão claramente o ensino da bíblia refuta a ideia de que a fonte da tentação seria um ser sobrenatural do mal, externamente. São eles:


Marcos 7:21-23 - Pois é do interior, do coração dos homens, que procedem os maus pensamentos, as prostituições, os furtos, os homicídios, os adultérios, a cobiça, as maldades, o dolo, a libertinagem, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a insensatez; todas estas más coisas procedem de dentro e contaminam o homem.

Tiago 1:14,15 - Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência; então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.


Eu grifei intencionalmente as palavras "soberba" e "cobiça" em Marcos, por entender que Cristo sofreu isto também durante sua vida e não somente no deserto. 
Em Tiago, a expressão "Cada um" mostra que o processo de tentação é o mesmo para qualquer homem ou mulher. Ele se dá internamente (sua "própria" concupiscência).

Jesus para ter sido nosso sumo-sacerdote, tentado em tudo como nós, com certeza passou pelo processo de ter que rejeitar  a cobiça e a soberba de como Filho de Deus achar que tinha privilégios maiores que os nossos. Pelo contrário, humildemente se colocou na posição de Servo. Aqui, a Cristologia de filipenses 2:5-10 ganha sentido.

Quem ou o que tentou Cristo no deserto?

O Vocábulo "satanás" é frequentemente mal compreendido e adotado no meio cristão como nome pessoal de um suposto anjo rebelde, inimigo de Deus. Atente para as definições abaixo:

De acordo com Scharf-Kluger, a palavra satan, em sua forma verbal significa literalmente perseguição por meio do impedimento de se fazer um movimento livre para frente. Como substantivo significa um adversário ou um acusador. Assim a palavra era de uso frequente na linguagem coloquial. De fato o próprio Yahvéh (ou o anjo de Yahvéh) pôde provar-se como um adversário (satan) para o homem, como vemos na narrativa de Balaão em Números, capítulo 22. (SCHARF-KLUGER? apud SANFORD, 1988, p. 42, grifos nossos).


As palavras derivadas do termo hebraico “satan” aparecem 33 vezes, em 28 versos do texto hebraico do Antigo Testamento, geralmente com o sentido de “oposição, obstrução ou adversário”. Como essas, as demais indicam um adversário ou ideia semelhante, sem qualquer carga pessoal no vocábulo ou indicação de personagem celestial. O termo funcionava como um adjetivo usado com referencia a pessoas ou realidades que se opunham. (MIRANDA, 2007, p.16,17, grifos nossos).

Se entendermos que Cristo era um ser humano como nós, foi tentado em tudo como nós, conforme os textos citados acima em contexto, e depois de conhecer o verdadeiro significado do vocábulo "satan", é certo que esta tentação se deu na própria mente de Jesus, internamente.

É improvável que este relato tenha sido projetado para ser um verdadeiro encontro entre um ser "adversário de Deus" e Jesus, porque as escrituras hebraicas que são o modelo de compreensão sobre satan no antigo testamento, não mostram nenhuma doutrina acerca de satan como ser sobrenatural do mal. Faz sentido entender que tudo se dá na mente de Jesus, principalmente por entender que é o próprio "Espirito de Deus" que o impele a tentação. Ora, poderiamos conceber uma ação conjunta entre Deus e o suposto anjo mal para tentar seu Filho? Claro que não!

Vou deixar intencionalmente muitas questões em aberto, para aguçar o desejo daquele que se interessar, em tentar encontrar nas escrituras as respostas às questões aqui abordadas.
Respondendo portanto à questão colocada inicialmente: Será que a tentação de Cristo no deserto serve de modelo para a nossa tentação diária? Em que sentido?

Ela é exatamente igual à nossa se Cristo sofreu o mesmo processo que sofremos diariamente, onde as tentações se dão na dimensão psicologica. Á maneira ortodoxa ensinada, jamais poderemos ser tentados como Cristo o foi.


"As tentações foram controladas por Deus para a educação espiritual de Cristo. Os trechos biblicos citados por Jesus fortaleciam-no contra os seus desejos ("Diabo") e todos pertencem à mesma parte do Deuteronômio, referindo-se a experiência de Israel no deserto. Jesus viu claramente um paralelo entre sua experiência e a deles" (Duncan Heaster - The Real Devil).



Marcelo Valle 




NOTAS:

6 comentários:

  1. Minhas considerações sobre os textos. Mateus, Marcos e Lucas.
    Então = condição;
    1ª frase = Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto;
    Para ser = objetivo;
    2ª frase = para ser tentado pelo diabo.
    Depois = adv. Indica sucessão
    3ª frase = E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome.
    Argumentação 01.
    As condições expressas no texto são: Tentação e fome; Sendo assim, a narrativa de Mateus é: Jesus foi tentado e depois teve fome. A sucessão dos fatos que se subentende no texto, a meu ver é esta. Logo, considerando o público alvo, a cultura e os valores que os autores, ou seja, Mateus (judeus), Marcos (samaritano) e Lucas (prosélitos) não há pontos ideológicos diferentes, mas sim colocações contextuais.
    É claro que também não podemos desconsiderar o fator geográfico. O deserto da Judeia, ou seja, o local da tentação de Cristo. Próximo de Jerusalém; Local onde o Jordão (rio) lançava suas águas (kineret), de fácil acesso. Logo, o deslocamento de Jesus, descrito por Lucas não seria algo demorado ou impossível, mas real e concreto. Quando me refiro ao deslocamento; digo: Jordão e deserto; não estou no corpo do texto.

    Pontos abordados (Marcelo Valle):
    1 - Que Cristo não se ausentou do deserto durante a tentação;
    2 - Que esta tentação não foi feita por um ser sobrenatural.

    Referente ao primeiro ponto. Que Cristo não se ausentou do deserto durante a tentação;

    Cristo não se ausentou do deserto. Não há contexto bíblico. O cenário era perfeito. Será?
    Considere:
    O deserto é conhecido pela sua paisagem dura, que forneceu refúgio e um esconderijo para rebeldes e zelotes através da história, além de solidão e isolamento para monges e eremitas. Durante os dias do macabeus (cerca de 2000 anos atrás), grandes fortalezas foram estabelecidas no deserto, como Massada (monte alto).
    Segundo escritos do século I a cidade santa não seria Jerusalém, mas Galiléia, onde estava situado o PÂNIUM, templo de mármore branco, dedicado a Augusto, ao nordeste da Galiléia. * Não esqueçamos que Herodes era pagão e pouco ligava para os costumes e tradições Judaicas;
    E pináculo é conceituado de duas formas: 1ª) o ponto mais alto de um lugar; 2ª) A linha geográfica que aponta o ponto mais alto de um lugar. Logo, observando os textos citados e suas ordenações dizem: 1º Jesus foi tentado em sua capacidade fisiológica (pedra em pão); 2º Que ele foi conduzido a um lugar elevado; 3º) Estava; foi colocado sobre o “pináculo” do templo, ou seja, na sua literalidade em cima do templo; conceitualmente vendo a linha geográfica que aponto o local mais alto, ou seja o monte elevado seria “o monte das oliveiras” e o pináculo esta linha geográfica.
    Sendo assim, considerando as perspectivas geográficas, Jesus em seu deslocamento para Galiléia obrigatoriamente saiu do deserto. Lucas afirma: “Assim, tendo o Diabo acabado toda sorte de tentação, retirou-se dele até ocasião oportuna.” Notemos que não falou: “acabado toda sorte de tentação no deserto, retirou-se dele até ocasião oportuna.” Creio que a tentação começou no deserto, mas não terminou lá.
    Referente ao segundo ponto: Que esta tentação não foi feita por um ser sobrenatural.
    Tanto Mateus, quanto Lucas enfatiza a permissividade do Espírito Santo neste episódio. Mateus chega afirmar que anjos o alimentaram depois de 40 dias e noites, ou seja, algo sobrenatural. Lucas ignora tal afirmação, contudo diz o Espírito o conduziu até Galiléia. (sobrenatural).
    Jesus atravessou todo o deserto composto por montes, fortalezas, esconderijos, perigos etc.; Segundo o site www.dgabc.com.br o ser humano não pode ficar sem água mais de três dias o seu organismo e funções cerebrais sofrem danos. Jesus ficou 40, isto não é sobrenatural? Logo, considerar a tentação de Jesus feita por um ser sobrenatural, ou seja, o diabo não seria nenhum absurdo, pois todo episódio trata-se de algo metafísico e surpreendente.

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  2. continuando ...
    Considerando também, o fator histórico e cultural de Israel, não podemos ignorar que o ortodoxismo judaico já não era tão forte e eficaz. O tempo de Herodes caracteriza principalmente pela influência helênica no seu reinado. Logo, Israel no tempo de Jesus era helênico e não ortodoxo (Tognini, 1974).
    É claro que o estudo delonga tempo, mas inicialmente é isso. Muito obrigado por esta postagem e que o nosso Pai continue nos abençoando em pesquisar, concordar e discordar de pontos significativos da fé cristã.
    Abração deste teu amigo, em Cristo;
    Marcos Cavararo.

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  3. Marcão, vamos aprofundar ainda mais, é por isso que eu admiro você.....

    Você afirmou o seguinte:

    1 - Cristo não se ausentou do deserto. Não há contexto bíblico. O cenário era perfeito. Será?

    R: Em primeiro lugar eu admito que se não considerarmos todos os contextos possíveis, sejam geográficos, históricos, culturais e conceituais, este texto não vai se mostrar como ele é, fatalmente iremos compreender de forma errada.

    Sendo assim, eu li nas três passagens que Cristo foi tentado NO DESERTO. Tente ler de novo e comparar para ver se fiz uma leitura erronea. Exemplos:

    Mateus 4 - ...Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto...
    Lucas 4 - ...Jesus, pois, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão; e era levado pelo Espírito no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo Diabo...
    Marcos 1 - ...E esteve no deserto quarenta dias sendo tentado por Satanás...

    Então, veja:

    Mateus informa que a tentação foi no deserto, depois de um jejum de 40 dias;

    Lucas diz que Jesus era levado pelo Espirito "no deserto", "durante 40 dias"...Detalhe: informa o tempo...durante 40 dias..

    Marcos é preciso: Esteve no deserto 40 dias..estava entre as feras....

    Então se eu ignorar este escopo, o restante da narrativa carece de sentido, porque se ele não se ausentou, é nisso que se baseia minha questão, como poderia ter saido do deserto até Jerusalém, se haveria aproximadamente de 30 a 50 km de distancia, se levarmos em conta o local onde Jesus poderia estar?

    Então, há contexto sim...e o contexto inicial é este: JESUS ESTAVA NO DESERTO DURANTE 40 DIAS.

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  4. 2 - Eu não entendi muito bem o que você quis dizer com a expressão: "...conceitualmente vendo a linha geográfica que aponto o local mais alto, ou seja o monte elevado seria “o monte das oliveiras” e o pináculo esta linha geográfica".

    Eu não sei se você está tentando uma interpretação alegórica do texto, porque o texto em si diz que o diabo o levou à cidade santa e o colocou sobre o pináculo do templo..é impossível pensar que a cidade santa aqui seja em outro local que não Jerusalém, distante portanto da Galiléia que situava-se ao norte do país... Outro ponto que confirma o que digo é que Lucas 4:14 diz que "Jesus voltou para a GALILÉA NO PODER DO ESPIRITO"...Ele não estava na Galiléa quando tentado, isto é óbvio..


    2 Ponto:

    Eu entendo que ao se fazer uma leitura do texto, encontramos muitas coisas que nos dizem, a priori, se tratar de algo sobrenatural, como você disse: "transformar pedras em pães", "os anjos o serviram"...

    Mas considere também que uma tentação para se tornar "óbvia", "com objetivos" ela precisa ter força, ela precisa atacar o ser humano no seu mais profundo ser...como Tiago e Marcos nos mostram.....Então, se Jesus não foi atacado dessa forma, não teria sentido...Ainda mais levando-se em conta que Jesus sendo Deus em forma humana (seguindo a linha trinitária), ele saberia com certeza que o "ser tentador" que estava diante de si, não poderia oferecer em verdade nenhuma tentação.

    Eu coloco assim no texto: "Por que Cristo acharia atraente um tipo de tentação como o cristianismo ortodoxo ensina? Sabendo que diante de si estava um anjo mal induzindo-o a errar, ele realmente sucumbiria diante desta tentação? Conhecendo que "o anjo mal" está diante de você querendo tentá-lo, você cairá diante dos argumentos dele"?

    O maior problema, vejo, é não considerar o fundo contextual de Mateus (que tinha os judeus como público alvo) e que para estes, o termo grego "diabolos" deriva do hebraico "satan", e nas escrituras hebraicas este termo não traz uma doutrina de que seja um ser sobrenatural. Mateus certamente saberia disto.

    Outro ponto seria não considerar que Mateus acrescenta detalhes do evangelho mais antigo, que é o de Marcos. Ele cria uma espécie de "mini debate", como se os debatedores ali estivessem mesmo dialogando entre si....Mas eu foquei na questão de que Jesus como nosso "sacerdote", segundo Hebreus sofreu exatamente como nós sofremos...as tentações dele foram iguais À nossa.

    Qualquer cristão sabe que jamais teve diante de si, um anjo tentando-o ao pecado. Mas sabe que é tentado (interiormente) todos os dias..este é meu foco...

    De qualquer forma, fica sempre e aberto para obtermos mais informações sobre o assunto...inclusive quero detalher mais a respeito do significado do vocábulo "tentar"....em que sentido ele está traduzido no texto..

    Obrigado mais uma vez e vamos continuar sempre assim, eximios pesquisadores..

    Abraços fraternos, na fé do Filho de Deus

    marcelo valle

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  5. Faltou uma pequena conclusão:

    O texto de Lucas, como você observou bem, diz que: "O diabo retirou-se dele até ocasião oportuna"...É isso, exatamente...Se o diabo procurou outra ocasião, porque não há nenhum relato nos evangelhos de uma repetição da tentação ocorrida no deserto, já que o texto afirma claramente que houve outras ocasiões?

    Agora, se entendermos que a tentação se deu de forma a faze-lo pecar, então faz muito sentido que esta tentação foi na dimensão psicologica, não como um ser ao lado tentando-o ao pecado.

    Uma interpretação literal deste texto, compreendendo que houve um deslocamento de Jesus, saindo do deserto, bem como um ser oferecendo um reino a Cristo se torna problemática diante das evidencias do proprio texto...

    Talvez surja a pergunta, que eu mesmo fiz: Mas a tentação não pode vir de algo externamente a nós?

    Pode, claro que sim.

    Por exemplo: Se você gosta de bebida alcoolica, é de bom grado que para se ver livre deste mal, vocÊ não deve passar perto de uma garrafa. Mas é ai que está a questão:
    A tentação de beber (neste exemplo), só se tornará real se ela encontrar resposta dentro de você. Se vocÊ resistir, ela o deixa, se vocÊ aceitar, você acabará errando, pecando.

    Ao afirmar o texto que vieram os anjos e o serviram, mostra que ele mesmo não poderia fazer isto por causa de sua intensa fome....algo surpreendente mesmo...ficar 40 dias sem comer. E até fui ousado e a principio achei que Mateus exagerou na narrativa, porque nenhum ser humano consegue ficar tanto tempo assim...mas...fica em aberto..

    Saudações

    marcelo

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