quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A BÍBLIA É A PALAVRA DE DEUS, ou CONTEM A PALAVRA DE DEUS?

Saudações Teológicas,

Gostaria de pedir-lhes que se inscrevam no canal, curtam e compartilhem se fizer sentido para vocês!

Segue o video :


Canal TEOLOGIA RADICAL no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=Tqdz68I1KvQ





Com gratidão,


Marcelo Valle

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

A linguagem e a Experiência sobre "Deus" - Uma brevíssima reflexão!


Nossa linguagem e nossa experiência acerca de "Deus" é e sempre será inadequada e imprecisa.

O ser humano não experimenta "Deus" de modo real, como se fosse um conhecimento de primeira mão, como se fosse o "ar" que se respira!

É isto que Rubem Alves expressou muito bem, quando disse:


"Pois Deus é como o ar. Quando a gente está em boas relações com ele, não é preciso falar. Mas, quando a gente está atacado de asma, então é preciso ficar gritando pelo nome dele. Do jeito como o asmático invoca o ar. Quem fala com Deus o tempo todo é asmático espiritual. E é por isso que anda sempre com Deus engarrafado na bíblia e em outros livros e coisas de função parecida. Só que o vento não pode ser engarrafado..." [1]


A experiência da pessoa religiosa a meu ver, é sempre algo vindo de escrituras que foram ditadas por terceiros desconhecidos. 

Você acredita que Moisés,Paulo ou Pedro tiveram uma experiência com Deus só porque escreveram sobre isto e está hoje no livro que te disseram que é sagrado e infalível. 

Mas, sempre perguntarei: E a "sua" experiência? Direta, irrefutável, sem a intervenção de terceiros, você tem?

"Deus" significa tantas coisas para tantas pessoas, que torna-se quase impossível achar um conceito preciso e adequado. Cada religião o pensa segundo categorias próprias! E pensa de forma religiosa!

Não adianta afirmar que Deus desceu à terra para se relacionar com o ser humano, pois este conceito teológico não passa de tentativa frustrada de combater os "hereges" e te tirar da realidade.
Diante do nosso mundo secular atual, aproximar-se de Deus e ter "relacionamento" com Ele, não passa de engano. Auto-engano. Não é isto que vejo no meu dia a dia.

Se queremos nos "aproximar de Deus", ou tentar falar sobre "Ele", no mínimo devemos adotar a postura do não-cognitivismo teológico, onde o vocábulo "Deus" (coloco em letras maiúsculas por conveniência) enquanto não houver definição de termo, torna-se sem sentido, numa discussão e na vida real.

É preciso re-aprender a falar de "Deus" de uma forma "secular", não mais tratando-o como uma entidade distante que atende aos nossos caprichos. 

Precisamos situar "Deus" dentro da história e da sociedade, e de certa forma "humanizar Deus", mas não no sentido cristológico, pois "Deus descer à terra" e se "encarnar" é pura mitologia!


É por este motivo, que aprecio a definição desse assunto da seguinte forma:


"Do que de verdade se trata é que não conhecemos a Deus, não o adoramos, não o possuímos e não cremos Nele. Não se trata tão somente de que se secou em nosso interior uma determinada capacidade; Para nós isso não significa uma mera afirmação sobre a fraqueza de nossa mente, mas uma declaração sobre a natureza do mundo, do qual tentamos convencer os outros. Deus morreu. Não estamos falando da "ausência da experiência" de Deus, mas da "experiência da ausência" de Deus!" [2] 


Por aqui encerro!


Marcelo Valle 


 NOTAS:

[1] Rubem Alves - O Deus que eu conheço - 4a Edição, Campinas SP - Verus 2015, p. 77

[2] Willian Hamilton - Teologia Radical e La Muerte de Dios - Ediciones Grijalbo, Barcelona, 1967 - p. 44 ) - tradução minha!


domingo, 30 de janeiro de 2022

A invenção de Deus (Jose Saramago)

 



Não nos damos conta de que, tendo inventado Deus, imediatamente nos tornamos seus escravos.


 

Por que sou agnóstico? (Robert G. Ingersoll)

 




Quando me convenci de que o Universo é natural, de que todos os fantasmas e deuses são mitos, a alegria da liberdade permeou todos os meus sentidos, toda a minha alma, toda a minha mente, todas as gotas de meu sangue. 

As paredes de minha prisão ruíram, o calabouço inundou-se de luz; todas as fechaduras, barras e grilhões dissolveram-se. Eu já não era mais um servo, um empregado ou um escravo; já não havia para mim qualquer mestre em todo o mundo – nem mesmo no infinito. Estava livre. 

Livre para pensar, para expressar meus pensamentos; livre para viver meu próprio ideal; livre para viver para mim e para aqueles que amava; livre para usar todas minhas faculdades e todos meus sentidos; livre para abrir as asas da imaginação; livre para investigar, adivinhar, sonhar e expectar; livre para julgar e determinar a meu bel-prazer; livre para rejeitar todas crenças cruéis e ignorantes, todos os livros “inspirados” que selvagens produziram e todas as lendas bárbaras do passado; livre de papas e padres; livre da barreira entre os “escolhidos” e os “excluídos”; livre de todos os erros santificados e das mentiras sacrossantas; livre do medo da danação eterna; livre dos noctívagos monstros alados; livre de todos os demônios, fantasmas e deuses. 

Pela primeira vez estava livre. Já não havia mais nenhum local de entrada proibida nos reinos do intelecto; nenhum ar, nenhum espaço onde a imaginação não pudesse abrir suas asas multicores; nenhuma corrente para meus membros; nenhum flagelo para minhas costas; nenhuma chama para minha carne; nenhum mestre para me intimidar ou ameaçar; nenhum caminho de outrem para ser seguido; nenhuma necessidade de obedecer, adular, rastejar ou fingir. 

Estava livre. Emergi ereto, destemido e feliz. Encarei todos os mundos. Então meu coração encheu-se de gratidão por todos heróis e pensadores que deram suas vidas pela liberdade no pensar e no agir – pela liberdade das mãos e do intelecto; por todos aqueles que pereceram ferozmente em campos de batalha; por todos aqueles que morreram acorrentados em calabouços; por todos aqueles que subiram orgulhosamente as escadas de patíbulos; por todos aqueles cujos ossos foram triturados, cuja carne foi marcada e rasgada; por todos aqueles que foram consumidos pelo fogo; por todos os indivíduos sábios, bondosos e bravos de quaisquer terras cujos pensamentos e feitos permitiram que seus filhos fossem livres. 

Jurei que seguraria a tocha que eles seguraram, e que a seguraria alta, para que assim sua luz sobrepujasse a escuridão remanescente. Sejamos honestos para conosco, honestos para com os fatos que conhecemos; e, acima de tudo, preservemos a veracidade de nossas almas. 

Mesmo se deuses existirem, não temos como ajudá-los, mas temos como ajudar nosso semelhante. Não podemos amar o inconcebível, mas podemos amar nossas esposas, nossos filhos e nossos amigos. 1

Podemos ser honestos quanto à nossa ignorância. Se formos, quando questionados sobre o que há além do horizonte do conhecimento, devemos dizer que não sabemos; podemos dizer a verdade, e desfrutar da abençoada liberdade conquistada pelos bravos; podemos destruir os monstros da superstição, as serpentes ciciantes da ignorância e do medo; podemos expulsar de nossas mentes as aterrorizantes presas que rasgam e ferem; podemos civilizar nossos semelhantes; podemos preencher nossas vidas com ações generosas, com palavras amorosas, com arte, com música e com todo o arroubo do amor; podemos inundar nossa existência com o brilho do Sol, com o divino clima da bondade; e podemos beber até a última gota do cálice dourado da felicidade.

(Robert G. Ingersoll - Por que sou agnóstico?)