sexta-feira, 13 de novembro de 2015

AS APARÊNCIAS ENGANAM !

O ser humano tem uma grande tendencia a estar julgando. E o pior, acham que sempre fazem a leitura correta dos fatos. Se acham deuses e não homens!

Presos a paradigmas e formas, são conduzidos a pensar que sua "crença" infalivelmente é a "única" correta e que as outras são "heréticas". É sempre a mesma história, o Ter vencendo o Ser. 



Tenho uma crença baseada na "verdade", "O caminho da Igreja Primitiva", "A Voz de Deus", e portanto quem não crê como eu, está errado!

Colocam o Criador do Universo dentro de sua "caixinha (religiosa) de sapatos" e dizem para Ele: "Só aceitamos esta forma e nada mais". Infeliz constatação da realidade.


Há grupos que necessitam a qualquer custo induzir pessoas a um pseudo retorno às raízes da fé judaica, sob o pretexto de que assim estarão "guiando" seus liderados à verdade de Jesus e da Igreja Primitiva. Estou me referindo a certos grupos (não todos) que se auto-denominam de "judeus messiânicos"!

Se utilizam de ensinos que não são bíblicos, acessórios eclesiásticos para impressionar seus visitantes quando praticam suas liturgias e de práticas inventadas por homens. Ordenam-se a si próprios pastores, sem (no mínimo) nenhuma instrução teológica formal. Se acham realmente "donos da verdade", mesmo que não afirmem isto!


Sabemos que o judaísmo atual e suas ramificações vêm de raízes rabínicas e não mosaicas. 

Os rabinos inventaram cercas para proteger a torah (criando a chamada Torah oral) e acabaram por torná-la um fardo, que certamente Moisés não pretendeu criar (Os ditos 613 preceitos).

Em que os rabinos são diferentes do catolicismo romano, neste sentido? A tradição cristã não fica devendo em absolutamente nada à tradição judaica.


Porém, o fato é que nem tudo que é "judaico" é necessariamente Mosaico, ou seja, está realmente de acordo a Lei (Torah) escrita por Moisés, como também nem tudo que é "cristão" é necessariamente "apostólico". Muito do cristianismo atual vem dos chamados "pais da igreja".

O Messias foi ferrenho opositor desse tipo de atitude. Invalidam a Torá de Deus pela sua tradição: "Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens". (Mateus 15: 8,9). 




Assim também, muitos dos chamados "pais da igreja" criaram doutrinas que na verdade os apóstolos nunca afirmaram e assim chegou a nós este "cristianismo" amalgamado e sem base apostólica.



Nos dias atuais, tem havido um movimento falso de retorno as raízes da fé, que não passa de mistura de "judaísmo rabínico com cristianismo", numa "suposta" roupagem séria e comprometida com a verdade. Cuidado, as aparências enganam e têm enganado os que não estudam a bíblia por si mesmos!








Conhecer a língua hebraica é sem duvida fundamental para quem estuda o Antigo Testamento, mas isso não dá o direito a ninguém de pensar que algo só se torna valido se estiver escrito em hebraico e sob esta ótica acabaram desmerecendo o próprio Novo Testamento. Se fosse assim, por que Deus deu aos seres humanos a diversidade de idiomas?



Minha preocupação, é que esses movimentos influenciem tanto os crentes em Jesus, que passarão a pensar que eles são judeus naturais e que a Igreja está caminhando para a perdição infalivelmente. Passarão a repugnar tudo o que venha da Igreja como algo espúrio. E é o que está ocorrendo, infelizmente. 


Há gentios se achando "judeus", pronunciando e ensinando que termos hebraicos [1] é que devem ser ditos no lugar dos nomes usuais já conhecidos (que não estão errados de todo) - Não me refiro aos clichês evangélicos que existem realmente - usam vestimentas judaicas e praticam regras criadas pelos rabinos judeus. Alguns até beiram o absurdo e dizem que o nome Jesus é pagão e que não devemos pronunciá-lo!

Um abismo chama outro abismo! Começam por achar que o nome Jesus é pagão, que "toda a cristandade" está fora de suas raízes e que a única maneira é "voltar às raízes judaicas". 

Em seguida, o próximo passo é querer utilizar vestes judaicas em suas reuniões, uso da kipá como algo imprescindível (algo que em minha opinião não passa de falsa espiritualidade), pensam que a ceia do Senhor foi apenas uma refeição comum e que tudo que é cristão hoje, é pagão...Esses, que normalmente vieram de igrejas evangélicas se esqueceram de suas origens!





Podem observar: Estes movimentos pseudo-judaicos sempre denigrem a imagem da Igreja, levando o povo a duvidar até mesmo do Escritos neo-testamentários. Cuidado crentes em Cristo! [2]



A minha argumentação é pautada no equilíbrio. Muitos, com certeza não aceitarão, mas sei que muito do cristianismo atual é completamente afastado de suas origens apostólicas, como também sei, por experiência, que esses falsos movimentos judaicos, embora sinceros e desejosos de retornar as raízes, não representam contudo um retorno "real", pois Eles na verdade mesclaram "judaísmo ortodoxo" com práticas supostamente "apostólicas". 

Nem são judeus, nem apostólicos. Por fim, não chegam a nenhuma definição funcional. Eles utilizam este "meio" para se chegar ao objetivo - Cristo. 







Mas, a fé Cristã genuína não precisa de objetos físicos para se representar e nem uma "fé" dita judaica!


 "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem". (João 4:23).

"Retornar às raízes" para Eles é se vestirem a moda judaica, usar kipá, falar e orar em hebraico e de maneira rígida - REJEITAR QUALQUER COISA QUE VENHA DE IGREJAS EVANGÉLICASO retorno deles é falso. Afirmo com veemência! 


Não precisamos orar e falar em hebraico para dizer que somos seguidores de Jesus. Não precisamos nos vestir como judeus em nossos cultos (uso de kipá, talit), nem praticar as festas judaicas, para dizer que somos seguidores do Messias judeu. Cada um pode e deve respeitar suas tradições!



O aspecto "universal" da igreja de Cristo é inter-idiomático, tanto é prova que o Novo Testamento foi escrito em grego, língua universal na época de Cristo, como o inglês é nos dias de hoje.


Não é a toa que Paulo afirmou que Deus enviou o Seu Filho na plenitude dos Tempos (Gál. 4:4), ou seja, quando a lingua era universal, quando o comércio vivia num estado "globalizado" e quando a vontade de Deus se cumpriu, o salvador judeu fora enviado.





Essa rejeição desses grupos contra a igreja foi iniciada pelos próprios judeus. Desde o ano 95 d.C, quando os judeus se reuniram em Jamnia para um conselho que redefiniria o rumo do judaísmo pelos próximos séculos e fora elaborado mecanismos religiosos e litúrgicos para repelir a presença dos chamado "nazarenos" (judeus crentes do I século) do círculo judaico. 

A rejeição inicial não foi da Igreja, foi do próprio judaísmo. Se a situação era difícil para estes primeiros judeus seguidores de Jesus, o que dirá aos gentios recém chegados do paganismo. 


Estes eram um grupo com grandes problemas identitários: por um lado não eram judeus (pois não se submetiam à conversão formal ao judaísmo) e nem eram pagãos (pois não frequentavam os cultos pagãos).

A sinagoga não queria mais os seguidores de Jesus, o mundo pagão também repelia os gentios seguidores de Jesus. A única saída foi a afirmação de uma identidade independente, tanto do mundo pagão como do mundo judaico. Assim se deu a formação da Igreja, cujo chamado foi a de ir por todo o mundo e cujas portas do hades não prevaleceriam contra Ela. (Mateus 16:18).


Alguém enxerga este chamado nestes círculos pseudo-judaicos? Eles nem se importam com isto. Eles nem falam neste chamado, o negocio deles é "voltar as raízes" e mais nada. E onde fica o progresso da obra do reino de Jesus? Restritos a realidades materiais!


E digo mais: O ensino desses grupos contém erros teológicos graves. Uns ensinam a trindade, outros, uma espécie de Modalismo, com relação a Jesus.

Quando dizemos que a palavra "trindade" não está na bíblia, queremos de certa forma afirmar que a doutrina da trindade não é bíblica.


Certamente, este argumento é frágil, pois não é porque a palavra trindade não está na bíblia, que não cremos na trindade, mas é porque a doutrina da trindade é que não está na bíblia.

Existem terminologias como soteriologia, hamartiologia que não estão na bíblia, mas as respectivas doutrinas estão contidas nela.

A igreja é a que mais se aproxima de suas origens "judaicas": o cânon que nós usamos é o cânon judaico, com 39  livros (diferentes somente na ordem em que se encontram). 

O batismo que realizamos (fora as diferenças) também é judaico, o verdadeiro cristão entende a posição do povo judeu, sem falar que o prometido descendente de Abraão (UM JUDEU) é o nosso Messias!


Volto a dizer: Isso não nos torna judeus em potencial. É preciso reconhecer que Em Cristo, Messias, somos um só povo, não há supremacia judaica nem gentilica. (Efesios 2:14-20). A oliveira não é Israel, é Cristo. Mas Cristo veio de Israel, é tao simples. O fundamento em que estamos edificados não se baseia na Lei.


De toda a Torá, compreendida pelos 5 livros de moisés, há aspectos "vigentes" e aspectos "não vigentes", pois eu não sou defensor de que a lei foi abolida em sua totalidade.

Também não sou defensor de um ensino errôneo do adventismo do 7 dia e das igrejas de Deus 7 Dia, que afirmam que existem divisões da Lei em Moral e Cerimonial. Isto é falso.


Outro erro seria o de afirmar que há diferença entre - LEI MORAL  e LEI CERIMONIAL - mas o fato é que não existe esta diferenciação de termos nas escrituras. 


Até mesmo a chamada "lei cerimonial" contém preceitos morais. ( Lev. 19:18 )

O amor ao próximo seria algo cerimonial?

O que quero dizer? Que não existe esta distinção de LEIS - MORAL E CERIMONIAL. Isto foi certamente criado pelo homem.

O que causa em minha opinião a falta de entendimento é não compreender que o termo hebraico - TORAH - não significa LEI (NO ASPECTO LEGAL DO TERMO) mas INSTRUÇÃO, ENSINO.


Me parece que foi Jeronimo que ao traduzir TORAH para o latim, verteu como LEGE, daí chegou a nós esta ideia de que tudo que se refere a Moisés é LEI (NO SENTIDO JURÍDICO, diríamos).


Existem ensinos que foram apropriados para a época em questão e jamais se aplicariam a nós hoje. 

Exemplos clássicos, são aqueles textos em que determinados homens com os testículos esmagados e sem o membro, não deveriam entrar na assembleia de Deus, se um homem tivesse vontade de evacuar, ele teria que sair do acampamento, fazer suas necessidades, se lavar e depois voltar ao acampamento. Mas, antes deveria fazer um buraco e cobrir as fezes. (Leia Deuteronomio 23).


Devemos interpretar como nossos esses estatutos que fizeram parte de uma instrução para a época do povo de Israel? 

Os ensinos de Cristo e dos apóstolos representam a mais alta "instrução" de YHVH aos seus filhos. Precisamos de mais alguma coisa?


Nosso amor em Cristo nos preocupa com relação a estes grupos pseudo-judeus, que implantam sorrateiramente um falso judaísmo mesclado a um falso cristianismo também.


OLHAR E ENXERGAR SÃO COISAS BEM DIFERENTES. 
CUIDADO, AS APARÊNCIAS ENGANAM E MUITO!






MARCELO VALLE



NOTAS

[1] Afirmam isto por pensarem que o idioma hebraico é uma especie de língua sagrada. Sabemos que o hebraico deriva do antigo alfabeto fenício. Sagrado por sagrado, o idioma grego também deveria ser, pois o NT foi escrito neste idioma.

[2] Não estou generalizando todos os movimentos judaico messiânicos, quando os chamo de pseudo-judaicos. Um belo exemplo de judaísmo messiânico tratado sem imposições de partes e dentro de uma ótica de respeito a tradições é o chamado MINISTÉRIO ENSINANDO DE SIÃO. (Quem quiser conhecer, acesse aqui: http://ensinandodesiao.org.br/quem-somos/).

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