sábado, 7 de junho de 2014

O LIBERALISMO TEOLÓGICO


Vejamos agora alguns nomes implicados no liberalismo teológico, responsáveis pelos novos rumos tomados pelo protestantismo:





 Friedrich Schleiermacher (1768-1834)





Teólogo e filósofo alemão, embora anti-racionalista, ensinou que não há religiões falsas e verdadeiras. Todas elas, com maior ou menor grau de eficiência, têm por objetivo ligar o homem finito com o Deus infinito, sendo o cristianismo a melhor delas.

  
Ao harmonizar as concepções protestantes com as convicções de burguesia culta e liberal, Schleiermacher foi considerado radical pelos ortodoxos, e visionário pelos racionalistas. Na verdade, o seu pensamento filosófico-teológico, embora considerado liberal, está mais perto do transcendentalismo de Karl Barth.






Adolf Von Harnack (1851 -1930)





 Teólogo protestante alemão, em cuja obra principal História dos Dogmas defende que a evolução dos dogmas do cristianismo se deu pela helenização progressiva da fé cristã primitiva. Em outra obra, A essência do cristianismo, reduziu a religião cristã a uma espécie de confiança em Deus, sem dogma algum e sem cristologia.











D. Albrecht Ritschl (1822 -1889)








Ritschl ressaltou o conteúdo ético da teologia cristã e afirmou que esta deve basear-se principalmente na apreciação da vida interior de Cristo.








David Friedrich Strauss (1808-1874)




Foi o teólogo alemão que maior influência exerceu no século XIX sobre os não-teólogos e não-eclesiásticos. Tornou-se professor da Universidade de Tubingen com apenas 24 anos. Quatro anos mais tarde, em 1836, foi furiosamente afastado do cargo em virtude de sua obra denominada Vida de Jesus criticamente estudada.






No ano de 1841 lançou, em dois volumes - A Fé Cristã - Seu Desenvolvimento Histórico e seu Conflito com a Ciência Moderna. Nesta obra está negando completamente a Bíblia, a Igreja e a Dogmática. Em 1864 publicou uma segunda Vida de Jesus, quando procurou então distinguir o Jesus histórico do Cristo ideal segundo a maneira típica dos liberais do século XIX. Em sua A Antiga e a Nova Fé, publicada em 1872, adota a evolução darwiniana em contraste com a fé bíblica.


Para Strauss, Jesus é mero homem. Insiste em que é necessário escolher entre uma observação imparcial e o Cristo da fé. Ensinou que é preciso julgar o que os Evangelhos dizem de Jesus pela lei lógica, histórica e filosófica, que governa todos os eventos em todos os tempos. Não achou e não procurou um âmago histórico, mas interessou-se apenas em mostrar a presença e a origem do mito nos evangelhos.

Seu conceito do mundo é o de matérias subindo para formas cada vez mais altas. À pergunta: "Como ordenamos nossas vidas?" - responde: Autodeterminação, seguindo a espécie.

Nas obras de Strauss não há lugar para o sobrenatural. Os milagres são mitos, contados para confirmar o papel necessário de Jesus, daí as referências ao Velho Testamento. Em resumo, Jesus é uma figura histórica. Da vida de Jesus nada sabemos, sendo tudo mito e lenda.

Considerado o mais erudito entre os biógrafos infiéis de Jesus, Strauss encerra o último capítulo da sua segunda Vida de Jesus com estas palavras: 

"...aparentemente aniquilaram a maior e mais importante parte daquilo que o cristão se acostumou a crer concernente a Jesus; desarraigaram todos os encorajamentos que ele tem tirado de sua fé e privaram-no de todas as suas consolações. Parece que se acham irremediavelmente solapados os inesgotáveis depósitos de verdade e vida que por dezoito séculos têm sido o alimento da humanidade; o mais sublime atirado ao pó, Deus despido de sua graça, o homem despojado de sua dignidade, e o laço entre o céu e a terra rompido. Recua a piedade em horror diante de um ato tão temeroso de profanação, e, forte como é na impregnável evidência própria de sua fé, ousadamente conclui que - não importa se um criticismo audaz tentar o que lhe aprouver tudo o que as Escrituras declaram e a Igreja crê acerca de Cristo subsistirá como verdade eterna; nem sequer um jota ou um til será removido."


Philip Schaff comenta que:

Strauss professa admitir a verdade abstrata da cristologia ortodoxa, "a união do divino e humano, mas perverte-a, emprestando-lhe um sentido puramente intelectual, ou panteísta. Ele nega atributos e honras divinas à gloriosa Cabeça da raça, mas aplica os mesmos atributos a uma humanidade acéfala.


Destarte, ele substitui, partindo de preconceitos panteístas, uma viva realidade por uma abstração metafísica; um fato histórico por uma mera noção; a vitória moral sobre o pecado e a morte por um mero passo na filosofia e em artes mecânicas; o culto do único vivo e verdadeiro Deus por um culto panteísta de heróis, ou própria adoração de uma raça decaída; o pão nutriente por uma pedra; o Evangelho de esperança e vida eterna por um evangelho de desespero e de final aniquilamento.




Sorem Kierkegaard (1813-1855)







Teólogo e filósofo dinamarquês. Filho de um homem rico torturado por dúvidas religiosas e sentimentos de culpa, Kierkegaard adquiriu complexos de natureza psicopatológica e possíveis deficiências somáticas. Estudou teologia na universidade de Copenhague, licenciando-se em 1841.

 Atacou a filosofia de Hegel e afastou-se mais e mais da Igreja Luterana, por julgá-la muito pouco cristã. Para o teólogo dinamarquês, entre as atitudes (fases) estética, ética e religiosa da vida não há mediação, como na dialética de Hegel, e não há entre elas transição, no sentido de evolução. Para chegar da fase estética à fase ética ou desta à religiosa é preciso dar um salto (ser iluminado, converter-se instantaneamente) que transforme inteiramente a vida da pessoa.


Para Kierkegaard, só o cristianismo é capaz de vencer heroicamente o mundo, sendo o panteísmo cultural de Hegel impotente contra a consciência do pecado e contra o medo e temor. Criticou o hegelianismo em sua acomodação ao mundo profano, por não ser capaz de eliminar a angústia e admitir a existência de contradições irresolúveis entre o cristianismo e o mundo, cabendo ao homem escolher existencialmente entre esta e aquela alternativa: ser cristão ou ser não-cristão.


São profundos os conceitos de Kierkegaard sobre os estágios da vida, a diferença entre ser e existir, o subjetivo e o objetivo, o desespero, os critérios positivos para a verdadeira existência, etc.


 Eis alguns deles:


No estágio estético, o homem leva uma existência imediata e não refletiva, faltando a diferenciação entre ele e o seu mundo; No estágio ético, o homem assume a responsabilidade pelo seu próprio ser, procura alcançar-se a si - o que não pode fazer; No estágio religioso, reconhece a impossibilidade de viver conforme gostaria e descobre que o pecado é não ser o que Deus deseja que seja, e que só se alcança este estado proposto por Deus através de algo que vem de fora - o próprio Deus;

O tempo (e espaço) trata do que o homem é, da sua existência; a eternidade significa que, embora o homem viva no tempo e no espaço, ele não está totalmente determinado por estes elementos; a existência fala de liberdade, possibilidade, do ideal, da obrigação; o momento de decisão é quando a eternidade intercepta o tempo;


O objetivo cultural é aquilo que é, enquanto o homem fica entre o que é e o que ele pode e deve ser. A ciência limita-se ao estudo do que é, ao que ela chama "a verdade"; mas os fatos claramente aceitos jamais encerram a verdade;

A essência do ser humano aparece quando traz a eternidade para dentro do tempo. Cada homem há de sofrer porque vive numa realidade muito física: liberdade versus tempo;

O único que realmente resolveu o paradoxo do tempo e da eternidade foi Jesus Cristo. Ele mesmo foi um paradoxo: Deus e homem; limitado e ilimitado; ignorante e conhecedor de tudo.


Soren Kierkegaard, redescoberto na Alemanha por volta de 1910, é considerado o precursor da teologia transcendental de que Karl Barth  no século XX, é o principal representante.




EXAME CRÍTICO


 1. Foi a partir de meados do século XIX, como conseqüência da grande vitalidade intelectual e reorientação do pensamento, que nasceu a teologia liberal. Foi esta uma época de renascimento religioso em geral e, em particular, de expansão do protestantismo, institucional e geograficamente caracterizada pelas missões e surgimento das sociedades bíblicas.


2. O liberalismo teológico, em sua essência, procura libertar as consciências cristãs das suas amarras escolásticas, apontando-lhes as exigências da razão. Realça a pessoa de Deus como a fonte de toda a verdade e enfatiza a necessidade de uma certeza sincera na busca da verdade, embora reconheça a impossibilidade do ser humano alcançar um conhecimento pleno da verdade absoluta.


3. A maioria dos teólogos da atualidade considera hoje insustentável essa premissa liberalista de que o espírito humano não possa mover-se em regiões para além do alcance dos sentidos, além do raciocínio meramente racional. Para Platão, o intelecto tem idéias supersensíveis, inexplicáveis à luz da razão, sendo que é neste reino que residem os característicos principais e distintivos da alma humana. Modernamente, é cada vez maior o número dos que conhecem uma área essencialmente metafísica, portanto fora do alcance dos meios físicos, na qual o espírito obedece às leis de sua própria natureza.


4. Segundo os teólogos liberais, o protestantismo precisa "incorporar à sua teologia os valores básicos, as aspirações e as atitudes características da cultura moderna, ressaltando, dentre outros, o imperativo ético do Evangelho." (Enciclopédia Mirador). 

Dessa pregação nasceu o evangelho social, onde a mensagem de Cristo deixa de ser o poder de Deus para a salvação e regeneração do homem, para tornar-se apenas uma fórmula social, impotente. 

"A Igreja transcende os métodos e as fórmulas humanas. Ela produz aquela vida plena de riqueza, que é o espírito livre e nobre em ação; pensa os melhores pensamentos; aceita os mais elevados ideais e os reveste de uma linguagem irresistível. Assim ela infunde um poder criador na sociedade de espíritos humanos... Não há fórmula suficiente boa para tornar boa uma sociedade, se não for executada por homens bons. O cristianismo não elabora fórmulas, mas cria os homens capazes de insuflar força moral em qualquer fórmula" (Lynn Harold Hough).


5. O movimento liberalista não reivindicou apenas amplas liberdades para o exercício da razão, mas pregou a tolerância entre as denominações protestantes, aproximando-as, através da minimização das diferenças doutrinárias.


6. O ressurgimento da intolerância religiosa no seio do catolicismo romano, nas primeiras décadas do século passado, o que resultou na prisão e morte de protestantes em diversos países, especialmente na Estônia, Lituânia, Letônia, Turquia, Pérsia, Portugual e Espanha, contribuiu também para aproximar entre si as denominações evangélicas. A organização, em 1846, da Aliança Mundial Evangélica, em Londres, foi uma resposta ao estado de insegurança em que se achavam várias correntes do protestantismo. Essa Aliança muito fez pela liberdade de culto em todo o mundo.


7. Mas o espírito liberal reclama ainda respeito pela ciência e pelos métodos científicos de pesquisas, o que implica na aceitação franca do estudo, tanto do mundo material como da crítica bíblica e da história da Igreja. 
Foi valendo-se desse estado de espírito favorável, que Darwin publicou a sua célebre obra As Origens das Espécies através de meios de seleção natural,em 24 de novembro de 1859, que provocou violentas e intermináveis polêmicas.


8. O liberalismo teológico aceita também o princípio da continuidade, ou seja, considera mais importantes as semelhanças do que os contrastes, admitindo-se a idéia da evolução para superar os abismos existentes entre o natural e espiritual, entre o homem e seu Criador, enfatizando mais a imanência do que a transcendência de Deus; o liberalismo prega ainda a confiança do homem no futuro, gerada pelas grandes conquistas em todos os campos da ciência.


Outras Doutrinas Liberais


1. Os credos primitivos são arcaicos e sem realidade para o mundo moderno.

2. A mente do homem é capaz de raciocinar segundo os pensamentos de Deus.

3. A mente deve estar aberta à verdade independentemente da fonte.

4. As doutrinas cristãs são símbolos de verdades racionais conhecidas pela razão humana.

5. A divindade de Jesus era uma declaração simbólica do fato de que todos os homens possuem um aspecto divino.

6. 0 conceito bíblico da revelação de Deus na história era ingênuo e pré-filosófico.

7. Os itens "4', "5" e "6" do parágrafo anterior sofreram influência do idealismo absoluto de Hegel e Letze. Os demais itens justificam plenamente alguns dos títulos do liberalismo: modernismo e racionalismo.

8. Como vimos, para o liberalismo Deus está presente em todas as fases da vida e não apenas em alguns eventos espetaculares. Assim, o método de Deus é o caminho da mudança progressiva e da lei natural, e o nascimento virginal de Cristo não condiz com a realidade, pois Deus está presente em todos os nascimentos.


9. Defendendo assim a imanência de Deus, o liberalismo podia aceitar a teoria da evolução, não negando a Deus, todavia, um ato criador, ou seja: Ele teria criado a primeira célula viva, da qual vieram todos os seres viventes, inclusive o homem.

10. O liberalismo reage contra um evangelho individualista, capaz de salvar o homem do inferno e não da sociedade corrompida, e insiste em que o reino de Deus não é além-túmulo e nem milênio, mas sim a sociedade ideal edificada pelo homem com o auxílio de Deus.

11. Na busca duma "sociedade ideal" muitos teólogos se têm inclinado para uma espécie de socialismo cristão, envolvendo-se em movimentos subversivos por acreditarem que as doutrinas de Marx e Engels, se destituídas de seu ateísmo, estariam em melhores condições de atender aos reclamos dos povos pela justiça social de que a própria mensagem evangélica.



 Sua atuação no Brasil




1. A entrada do liberalismo no Brasil remonta ao segundo decênio deste século, quando a Imprensa Metodista editou Pontos Principais da Fé Cristã, livro que nega a doutrina da expiação. Depois surgiram inúmeras obras modernistas, inclusive Religião Cristã, traduzida do italiano pelos reverendos, Dr. Alexandre Orechia e Matatias Gomes dos Santos.


  
2. As primeiras vítimas da teologia liberal em nossa pátria, segundo o falecido reverendo Raphael Camacho, apareceram por volta de 1930, na Faculdade Evangélica de Teologia, no Rio de Janeiro. Muitos livros adotados nesse estabelecimento de ensino religioso eram modernistas, como também o eram quase todos os seus professores.

  

3. Segundo Raphael Camacho, o rev. Othoniel Motta, professor de Geografia Bíblica, costumava dizer em classe: "Eu sou o pai dos hereges... Eu oro pelos mortos." O rev. Epaminondas do Amaral, professor de exegese do Velho Testa mento, negava tudo o que há de sobrenatural na Bíblia. O rev. Bertolaze Stela escreveu no "Estandarte", em 11/9/41, que todos os manuscritos da Bíblia foram contaminados por grandes mo dificações, e que não há esperança de se encontrar entre eles um texto que esteja próximo dos originais. Em "O Estandarte" de 15/9/53, este mesmo ministro escreveu: "Somente as palavras de Jesus constituem os ensinos e a religião de Cristo... a Bíblia contém a palavra de Deus." e fez suas as palavras do rev. Miguel Rizzo Jr., em A Nossa Mística: "Para uns a suprema autoridade está na Igreja (Católica Romana); para outros, nos espíritos do além (espíritas); para outros nas Escrituras (evangélicos), mas para nós está em Cristo." Eis aqui a heresia chamada cristicismo, que desassocia Cristo da Bíblia e afirma que somente as palavras ditas por Cristo é que são inspiradas.


  
4. Em 1938 os modernistas se manifestaram mais publicamente, de modo especial no seio da Igreja Presbiteriana Independente, sendo então resistidos pelos fundamentalistas, liderados pelo rev. Camacho. Travou-se acirrada luta doutrinária, luta que levou o rev. Camacho a desligar-se dessa Igreja e a organizar, em 11 defevereiro de 1940, a Igreja Presbiteriana Conservadora.


  
5. Também o ex-padre Humberto Rohden, escritor, conferencista e autor de uma tradução do Novo Testamento em português, no seu livro Pelo Prestígio da Bíblia na Era Atômica, faz uma dura arremetida contra o evangelismo bíblico do Brasil e uma exposição das teorias modernistas do pastor batista norte-americano, Harry E. Fosdick.



Obs.: Podemos entender e aceitar o liberalismo teológico como uma excelente ferramenta para melhor compreendermos a fé cristã, liberando-a de seus dogmas pré-estabelecidos que sacam sua beleza. Para melhor entender sua essencia, recomendo a leitura do livro: O QUE É CRISTIANISMO? (Editora Reflexão),  do grande teólogo alemão Adolf Von Harnack, disponível em: 

https://ssl5921.websiteseguro.com/editorareflexao1/Site.aspx/Produto/86-O-QUE-E-CRISTIANISMO?store=1


MARCELO VALLE