segunda-feira, 26 de maio de 2014

Des-dogmatizar o cristianismo...é preciso!!

Como teólogo e defensor do processo do pensar teológico, me imagino vez por outra refletindo sobre os temas fundamentais da fé cristã e estou sempre em busca de um amadurecimento do conhecimento e de um aperfeiçoamento da vida cristã. 

Essa busca, a meu ver, deve necessariamente trazer consigo pressupostos que possibilitem um confronto e até mesmo uma crise com sua visão pessoal. Sem crise, não há mudança total. Mudanças só ocorrem quando existem confrontos. Sejam pessoais, sejam sociais, sejam espirituais. 

Se uma pessoa se diz teólogo ou pensador de quaisquer áreas do saber e não gosta de confrontos ou tem medo deles, esqueça...tem medo de encontrar a sua verdade! 

A reflexão do pensamento se assenta em uma busca da verdade e para isto não se pode ter medo de encontrá-la. A Verdade a que me refiro é a que está no campo cristão-teológico. 

Não consigo imaginar uma pessoa que professa a fé cristã, sem um mínimo de reflexão e de questionamento de sua própria fé. Parece-me que quanto mais "não imagino" tais pessoas, mais as encontro. É como um pesadelo que teima em retornar todas as noites. Talvez seja o caminho da Providência!

O questionamento dessa vez é sobre a famosa e ortodoxa doutrina da Trindade, base da maioria das igrejas cristãs.

Desde o ano de 2008, como sempre buscando mais e mais entender as doutrinas cristãs, certa vez deparei-me com um artigo com o seguinte título:

Se a Trindade não existe, como entender Mateus 28:19?

Este pequeno título foi uma bomba para mim. Chamei de maluco o homem que o escreveu. Isso mesmo, maluco!

Mas, lendo o conteúdo, verifiquei que algo estava realmente errado com a forma que há tempos eu vinha compreendendo o tema trindade

Este texto em nossas bíblias está redigido assim:
Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo (Mateus 28:19 - AA) (Grifos meus)

O argumento do artigo citado acima foi pautado com muita coerência nos seguintes pormenores:

1 - Se Cristo supostamente disse isso, com certeza o disse para os onze discípulos que ele designou que deveriam ir para a  Galileia (Mateus 28:16);(grifo meu).

2 -  Pedro e os demais (Marcos 16:7,14) entenderam perfeitamente a ordem e podem nos dizer exatamente como obedeceram à esta ordem (se é que Jesus realmente a tenha dito);

3 - Quando vamos ao Livro de Atos e nas epístolas paulinas, encontramos os discípulos batizando apenas em nome de Jesus; Sem contar as passagens que se relacionam de algum modo ao batismo. 

Ex.: Atos 2:38 / Atos 8:12,16 / Atos 10:48 / Atos 19:4,5 / Rom. 6:3 / Gálatas 3:27 / Col. 2:11,12.

4 - Estudiosos do assunto encontraram evidencias na história da igreja e afirmaram que Mateus 28:19 [como está redigido] é fruto de um acréscimo posterior ao texto bíblico;

5 - Dentre estas, destaco 3 fortes evidências:

     5.1 - Em "Historia Eclesiástica" de Eusébio de Cesaréia, livro III, 5, II é dito o seguinte:
Depois da ascensão de nosso Salvador, os judeus acrescentaram ao crime cometido contra ele a invenção de inúmeras ameaças contra seus apóstolos: Estevão foi o primeiro que eliminaram, apedrejando-o ; depois dele, Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João, a quem decapitaram ; e depois de todos, Tiago, o que depois da ascensão de nosso Salvador foi o primeiro designado para o trono episcopal de Jerusalém e morreu da forma que já descrevemos. E os demais apóstolos sofreram milhares de ameaças de morte e foram expulsos da terra da Judéia. Porém, com o poder de Cristo, que havia-lhes dito: Ide e fazei discípulos de todas as nações EM MEU NOME, dirigiram seus passos para todas as nações para ensinar a mensagem. (grifos meus).

     5.2 - No livro "O JUDAISMO E AS ORIGENS DO CRISTIANISMO" (David Flusser) -  Vol. II, pág. 156 é dito o seguinte:
A fórmula trinitária franca aqui é de fato notável, mas já foi mostrado que a ordem para batizar e a formula trinitaria faltam em todas as citações da passagem de Mateus nos escritos de Eusebio anteriores ao Concilio de Niceia. O texto de Eusébio de Mt. 28:19-20 antes de Niceia era o seguinte: "Ide e tornai todas as nações discipulas em MEU NOME,  ensinando-as a observar tudo o que vos ordenei" (grifos meus).


   5.3 - A BIBLIA DE JERUSALEM, uma das principais Bíblias impressas pela igreja Católica, no seu comentário de rodapé sobre Mateus 28:19 diz o seguinte: (veja a reprodução do texto original abaixo).

"É possível que, em sua forma precisa, essa fórmula reflita a influência do uso litúrgico posteriormente fixado na comunidade primitiva. Sabe-se que o livros dos Atos fala em batizar "no nome de Jesus". (Conforme Atos 1:5; 2:38). Mais tarde deve ter-se estabelecido a associação do batizado às três pessoas da Trindade”. (grifos meus).


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6 - Verifica-se que o contexto de Mateus 28:19 (sem o texto trinitário) encaixa perfeitamente comparando-se os textos de Marcos 16:15-20 com Lucas 24:45-47 e com a construção citada por Eusébio. A evidencia interna é muito forte mostrando que tanto o batismo bem como a própria concessão da autoridade dada por Deus a Cristo seria estendida aos discípulos, ausentando, portanto, a fórmula trinitária.



(Concessão da autoridade)


JESUS AGIA EM NOME DE DEUS ______ OS DISCÍPULOS AGIAM EM NOME DE JESUS


É importante citar também o que o antigo Cardeal Joseph Ratzinger (ex-papa) disse sobre Mateus 28:19, no livro de sua autoria chamado "INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO" - Cap. 2, pág. 82:

“A forma básica da nossa profissão de fé (Mateus 28:19) tomou forma ao longo dos séculos segundo e terceiro d.C. em conexão com a cerimônia do batismo. Trata-se originariamente de uma fórmula nascida na cidade de Roma.(grifos meus).


(1º CONCILIO DE NICEIA - 325 E.C)



O leitor está conseguindo perceber estas posições aqui expostas? Podemos resumí-las assim:


1 - A influência do pensamento helênico nos Pais da Igreja serviu como embrião nos séculos II e III na formação do dogma trinitário posteriormente e o próprio catolicismo romano admite como sua a alteração do texto de Mateus.

- O Concílio de Niceia foi um divisor e determinador na questão da formação do dogma trinitário, que posteriormente passou a ser matéria de fé.

3 - Se o pensamento ordinário dos evangelhos e epístolas mostra o processo de transmissão do ensino, qual seja, Jesus agia "em nome de Deus" e os discípulos agiam "em nome de Jesus", significa que até mesmo o batismo estaria nesta ordem, pois do contrário careceria de sentido.
Exemplos podem ser confirmados com os seguintes textos: Colossenses 3:17; Atos 8:16; 1 Cor. 1:13; Romanos 6:3, Gálatas 3:27.

4 - A igreja cristã se apropria de apenas "um" texto (Mateus 28:19) para batizar em nome da Trindade, em detrimento de várias outras passagens que apoiam o ensino apostólico de que os batismos eram realizados apenas "em nome de Jesus". Qual seria a explicação para isto?




Acredito que com base nestas informações, nossa fé deve ser re-pensada e procurar ser firmada em raízes mais sólidas. Os protestantes alegam seguir somente a bíblia, mas não conseguem dar um passo a frente a fim de compreender que a doutrina da trindade não tem base bíblica, mas tem cunho filosófico grego. A maior prova, diria, é que nenhum teólogo consegue explica-la utilizando somente a bíblia. Ao contrário, explicar com a bíblia a unicidade de Deus é bem fácil. (Cf. Deut. 6:4; Marcos 12:29).

A pergunta que fica é: Por que aceitar uma doutrina que levou até 3 séculos depois de Cristo para ser formulada e que foi debatida ao longo de décadas e "imposta" depois pelos Concílios?

A doutrina da trindade na verdade foi decidida por tentativa e erro. Essa cadeia incomum de eventos é a razão pela qual os professores de teologia Anthony e Richard Hanson, em seu livro: [A crença razoável: Um Estudo da Fé Cristã] resumiram a história anotando que a adoção da doutrina da trindade foi o resultado de “um processo de exploração teológica que durou pelo menos trezentos anos" . . . Na verdade, foi um processo de tentativa e erro (ou de muitos erros e poucos acertos), onde o erro não foi limitado ao que não era ortodoxo . . . Seria tolice representar a doutrina da Santíssima Trindade como tendo sido alcançada por qualquer outro meio. (grifos meus). [1]


A doutrina da Trindade se desenvolveu gradualmente após a conclusão do Novo Testamento, no calor da controvérsia, mas os padres da igreja que a desenvolveram acreditavam que estavam simplesmente fazendo uma exegese [explicação] da revelação divina e de forma alguma estavam especulando ou inventando novas ideias. A integra da doutrina da Trindade foi especificada no 4 seculo em dois grandes concilios ecumenicos (universais): Niceia em 325 D.C e Constantinopla em 381 D.C. [2] (grifos meus).

O desenvolvimento desta doutrina se deu ao longo de muitos séculos e seu termo chegou no ano de 381 E.C como vimos na citação acima.

Veja o que diz o site Ecclesia a respeito disto:

Não se fizeram esforços nos primeiros tempos para trabalhar estes complexos elementos em um todo coerente. A sintese final demorou mais de 3 seculos, quando no ano 381 o Concílio de Constantinopla ratificou a fórmula de um só Deus em três pessoas co-iguais. [3]

As "fontes" dos quais os trinitarianos retiram sua crença estão arraigadas nos escritos dos pais da Igreja, cujas obras contribuíram para a formação final do dogma no 4º Século E.C.

No entanto, podemos inferir que os chamados "pais da Igreja" não deixaram explicito o conceito, sendo este mais bem elaborado à partir de Orígenes de Alexandria.

Justino, por exemplo, procura dar justificação racional ao ensino trinitário, tentando primeiro provar que o "Logos" era outra pessoa independente do Pai, apoiando-se em versículos como Gênesis 1:26 e Provérbios 8:22. Chega a afirmar o seguinte:

Sendo Verbo e primogênito de Deus, Ele também é Deus. "Assim, portanto, Ele é adorável, Ele é Deus", e "nós adoramos e amamos, depois de Deus, o Logos derivado de Deus incriado e inefável, vendo que por nossa causa Ele se fêz homem".

Teófilo de Antioquia também defendia que as teofanias do Antigo Testamento na verdade eram aparições do Logos [Jesus]. Isso é o que se chama de "preexistência do Logos".

Teófilo foi o primeiro escritor a aplicar a palavra "tríade" à Divindade, afirmando que os três dias que precederam a criação do Sol e da Lua... 

..."foram figuras da tríade, isto é, de Deus, de seu Verbo e sua Sabedoria". 

Mas, do ponto de vista histórico, um dos primeiros a utilizar no Ocidente cristão o termo "Trindade" para expressar a ideia de que a unidade divina existiria em três pessoas distintas, foi Tertuliano. 

Tertuliano é o grande criador do vocabulário trinitário latino e procura justificar sua doutrina exibindo Deus como formas, manifestações e graus que se distribuem nos nomes Pai, Filho e Espirito Santo.

No início do Século III, em sua obra "Adversus Praxeas" (2,4; 8,7), ele utilizou o termo latino de "trinitas". Antes disso, e no Oriente cristão, só há o registo do termo grego "Τριας" (trias) nos escritos de Teófilo de Antioquia ("Três Livros a Autolycus", 2, 15) redigidos por volta do ano de 180 d.C. [4]


Foi assim que começou a se formar, portanto, o "embrião" que deu posteriormente forma final ao dogma trinitário. Especulações filosóficas e nada de teologia puramente bíblica.


Des-dogmatizar o cristianismo...é preciso!!


Podem até me tachar de "teólogo liberal", mas liberal e magnifica é a ideia do grande teólogo alemão - Adolf Von Harnack - onde em sua obra "A história do Dogma" propõe a des-dogmatização do cristianismo.

Harnack dizia com base na história que o cristianismo primitivo foi distorcido pela infiltração de outros pensamentos dentro da doutrina cristã como a filosofia grega. Nos concílios, a filosofia grega formou os dogmas, até mesmo em termos como ousia e hypostasis


O evangelho foi então helenizado, perdendo sua característica [eu diria, característica judaica]. Sua proposta era que, a religião deveria voltar ao simples evangelho de Jesus e abandonar os dogmas


O teólogo, para Harnack, tem a função de des-dogmatizar a fé e não ensinar dogmas, afastando mais ainda o evangelho de sua essência. [Precisamos de teólogos assim nos dias de hoje].

Na verdade, me vejo como um "liberal-teólogo", aberto e procurando sempre estar assim às revelações que surgem da palavra de Deus (AT e NT), pois esse sentimento repousa no protestantismo clássico (pelos menos deveria repousar). 

E, ademais, espero (mesmo que isto seja impossível) encontrar uma forma de realizar o vaticínio de Harnack, de afastar a igreja de Deus de seus dogmas pré-estabelecidos em Niceia (des-dogmatizar), e retornar às raízes judaicas do cristianismo primitivo. 
Sobre "primitivismo", acesse: http://valle-teologo.blogspot.com.br/2014/04/sou-primitivista-sim-por-que.html

É oportuna a frase que um amigo e colega de seminário uma vez me disse: O dogma é uma praga. Entendo hoje a força desse pensamento!

O dogma limita você a não buscar mais e mais compreensão de sua fé nas escrituras, além de colocar Deus dentro de um molde e determinar o que Ele deve ou não deve fazer, tornando você uma pessoa intolerante, não respeitando e estigmatizando como "herege" aquele que não crê corretamente como você (orto - doxia) . É uma venda aos olhos da fé. 
Acesse aqui para entender o que penso sobre "dependência teológica": http://valle-teologo.blogspot.com.br/2013/10/dependencia-psicologica-o-que-e-isto.html


Segundo o Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 88, dogma se define assim: 

O Magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando, utilizando uma forma que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, propõe verdades contidas na Revelação divina ou verdades que com estas têm uma conexão necessária. (grifos meus) [5]


Dogma no sentido atual, 
portanto, é aquilo que se deve crer como matéria de fé para ser um cristão e não cabe questionamentos. É irrevogável. Tem caráter obrigatório e ponto final.
E é nisto que está minha crítica. O pensamento do que se deve crer a respeito de Deus não pode ter caráter obrigatório ou ser fixado por homens, pois Deus não se limita aos caprichos dos homens ou de instituições. Esqueceram que Ele é o Soberano e Criador do Universo? 

Como Paulo diz: 


Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!Por que quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro?Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? [Romanos 11:33-35]


A noção, a meu ver, apurada de não se submeter aos credos, está nesta belíssima citação de um pioneiro adventista do 7 dia, o que faz com que o crente retorne à bíblia sem a mediação dos sistemas humanos:


O primeiro passo para a apostasia é estabelecer um credo e dizer que devemos crer nele. O segundo é fazer desse credo um teste de discipulado. O terceiro é provar os membros por esse credo. O quarto passo é denunciar como heréticos aqueles que não crêem no credo. E, quinto, persegui-los por isso’. (John Loughborough, 1861)

Uma sequencia, a meu ver, lógica e com um alcance muito profundo, percebam:


1º passo para a apostasia = Estabelecer um credo / dizer que "devemos" crer nele;


2º passo para a apostasia = Fazer desse "credo" um teste de discipulado;


3º passo para a apostasia = Provar os membros por esse "credo";


4º passo para a apostasia = São "hereges" os que não crêem nesse "credo";


5º passo para a apostasia = perseguir quem segue o referido "credo".


E não é exatamente isto que as igrejas fazem na atualidade?


Fica sobremodo patente algumas questões: 



  • Se a doutrina trinitária é (era) bíblica, por que somente foi compreendida em plenitude (?) e definida apenas no 4º século, depois de Cristo?


  • Se é um dogma, porque sofreu uma evolução?


  • Se foi necessário explicá-la e compreendê-la por causa da consciência que a Igreja ia adquirindo ao longo do tempo (evolução), isto mostra que não era algo bem definido em sua forma inicial.


  • Por que utilizar terminologia não-bíblica para explicar - ou tentar explicar - algo que a bíblia diz? As palavras das escrituras deveriam ser suficientes!


Eu concordo que uma doutrina pode passar por uma interpretação humana e isto gerar divergência de interpretação, mas isto não significa que após esta sofrer uma análise, haja completamente uma mudança no entendimento a respeito dela, esquecendo-se das próprias passagens bíblicas a respeito.




 MINHA ANÁLISE CRÍTICA E TEXTUAL SOBRE A TRINDADE


A trindade não foi conhecida dos primeiros cristãos cujo "credo" era o mesmo de Jesus. (Cf. 1 Tim. 2:5; 1 Cor. 8:6), conforme costuma-se mencionar. (Não estou falando dos chamados pais apostólicos),


Não se pode esconder a clareza destes dois versículos citados acima, onde nos é mostrada a clara distinção de pessoas e a atribuição de Divindade apenas e exclusivamente ao Pai.



Afirmo com convicção, que Jesus recebe o título "Deus" no NT em apenas 6 passagens e ainda assim depende da versão utilizada e de sua construção gramatical no grego, o que pode proporcionar uma tradução e entendimentos diferentes do que admite a ortodoxia cristã.



São estas as passagens: João 1:1; João 20:28; Rom. 9:5; Tito 2:13; Hebreus 1:8; 1 Tim. 3:16.




CITANDO ALGUNS EXEMPLOS



1 TIMOTEO 3:16


No caso de 1 Tim. 3:16, a ACF e a AA diferem de tradução, e em uma pesquisa rápida foi percebido que somente a KJV e a Reina-Valera utilizam o vocábulo Deus neste texto referindo-se a Cristo. Todas as outras versões, inclusive as versões católicas mostram que o versículo refere-se a Cristo, não a Deus.



Versão ACF - E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: DEUS se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória. (grifos meus)



Versão AA - E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: AQUELE que se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, e recebido acima na glória. (grifos meus).



A maioria dos manuscritos antigos abreviava os nomes sagrados (“os chamados NOMINA SACRA”) e foi esse o caso aqui, onde o termo para “DEUS” – do grego THEOE foi “abreviado como - Θ∑ - (Teta-Sigma), com uma linha traçada no topo das duas para indicar que se tratava de uma abreviatura”. 


Foi percebido pelo pesquisador bíblico do século 18, J. J. Wettstein, que a linha sobre as duas letras fora feita com uma tinta diferente da que fora usada para as palavras circundantes, de onde se depreendeu que na verdade fora feita mais tarde, por um copista posterior. Além disso, o traço horizontal da primeira letra não fazia realmente parte da letra, mas era uma linha que vazara desde o outro lado do velho velino. 

Em outros termos, em vez de se tratar de uma abreviatura TETA-SIGMA de DEUS, (Θ∑), a palavra era realmente formada por um OMICRON E UM SIGMA – (О∑), uma palavra completamente diferente que significa QUEM, QUE. 

A redação do texto não falava de "Cristo como sendo DEUS MANIFESTO EM CARNE", mas "AQUELE QUE SE MANIFESTOU EM CARNE”. 

Basta comparar este verso, além de muitos outros, com 1 João 4:2,3. Quem veio em carne, Jesus ou O Pai? E João ainda mostra a diferença entre ambos.



JOÃO 1:1


No caso de João 1:1 atentem para o que se segue:

No grego não diz: E a palavra era Deus;

Diz assim: E Deus era a palavra

A construção gramatical no grego foi invertida quando se fez a tradução. Por quê? 

Citaremos abaixo esta fraseologia de João 1:1 em duas línguas, o grego e o latim [6]. 

Verbum em latim é neutro e se traduz por palavra e nunca por Verbo (com V maiúsculo), como em português, querendo enfatizar que se trata de uma pessoa Divina ao lado do Pai. 


JOÃO 1:1 (EM GREGO) 

EN ARKHÊ ÊN O LOGOS KAI O LOGOS ÊN PROS TON THEON KAI THEOS ÊN O LOGOS. (observe o sentido no grego na parte grifada).


No principio era a palavra (logos) e a palavra (logos) estava junto de Deus e Deus era a palavra (Logos).



JOÃO 1:1 (NA VULGATA LATINA) 

In principio erat Verbum et Verbum erat apud Deum et Deus erat Verbum 


NO PRINCIPIO ERA A PALAVRA E A PALAVRA ESTAVA COM DEUS E DEUS ERA A PALAVRA


Note o leitor que nas traduções comuns há uma distorção, o texto originalmente fala DEUS ERA A PALAVRA e não A PALAVRA ERA DEUS. 


Na frase em latim DEUS ERAT VERBUM, DEUS está no nominativo, logo Deus é o sujeito da oração. Quando dizemos DEUS ERA A PALAVRA, Deus é o sujeito da frase, mas quando dizemos A PALAVRA ERA DEUS, tornamos A PALAVRA o sujeito da frase e lhe damos um atributo – SER DEUS – o que não está no original grego nem no latim. 


Se formos ao livro do Gênesis vamos ver que todas as coisas foram criadas através da palavra de Deus; por exemplo:  Disse Deus, haja luz e houve luz.  

Se admitirmos que O Verbo (com V maiúsculo) era Deus, como está nas nossas traduções, então temos dois deuses, porque mesmo a doutrina da trindade admite que são pessoas distintas. Sendo assim, se O VERBO ESTAVA COM DEUS E ERA DEUS - segue-se que são 2 DEUSES e não 1. (Quebra do Monoteísmo bíblico). 


Mesmo que alguns tradutores, como os da Torre de Vigias (Testemunhas de Jeová) insistam em que se deve colocar o artigo indefinido – UM – entre colchetes antes da palavra THEÓS (E A PALAVRA ERA [UM] DEUS) [7], admitem que na construção em grego não existe tal “artigo indefinido antes de THÉOS”, mas cometem o mesmo erro da maioria das traduções – invertem o sentido da frase na tradução, alterando portanto seu significado e atribuindo ao LOGOS uma pessoalidade, não uma característica. 

O LOGOS DE JOÃO no Novo Testamento tem as mesmas características do DAVAR do Antigo Testamento, possui uma dimensão que comunica um pensamento, uma intenção, ou seja A PALAVRA QUE CRIA E GUIA A HISTÓRIA. (Veja Isaías 55:10,11).



JOÃO 20:28 



Em João 20:28 é claramente perceptível a exclamação de Tomé diante do aparecimento do Cristo ressuscitado: Note o ponto de exclamação no texto.



(E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!). Observe que se trata de uma reação de espanto por parte de Tomé, pois no v. 25, ele fala que se não visse os cravos e não pusesse o dedo ali, de maneira nenhuma creria.




E também pelo simples fato de que no mesmo capítulo, quando Jesus diz a Maria para ir a seus irmãos, Ele diz: ...vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, MEU DEUS E VOSSO DEUS. (v. 17).


Ora, depois de ressuscitado segundo os trinitarianos, Jesus voltou a sua condição de “DEUS” no céu, então se Jesus assim o fosse, por que dizer aos discípulos – MEU DEUS E VOSSO DEUS? (Jesus teria UM DEUS acima dele?)


A palavra "Deus" também não é nome pessoal, é um substantivo usado como título que aplicado a determinados seres, expressa autoridade, grandeza, poder. Vem do hebraico "ELOHIM" E DO GREGO "THEÓS'.

Isso é muito fácil de entender quando vemos na bíblia homens, anjos e até os deuses pagãos recebendo este título. (Ex. 7:1 / Sal. 8:5 / Juizes 16:23, somente citando alguns).


Os trinitários alegam que por ser ELOHIM (uma palavra plural masculina), denota a pluralidade de pessoas no único Deus (O QUE ELES CHAMAM DE DEUS TRI-UNO).

Mas o fato é que “ELOHIM não expressa "quantidade numérica" e sim "grandeza e autoridade". No judaismo Elohim é conhecido como Plural majestático. [8]

Para os que crêem que DEUS é TRI-UNO, atentem para a pergunta que o profeta Isaías faz utilizando a palavra que é a singular de Elohim – ELOHA (DEUS) e aplicada apenas ao único Deus, veja:

Porventura há outro Deus (Eloha) fora de mim? Não, não há outra Rocha que eu conheça. (Isa 44:8).

Do mesmo modo, lemos nos Salmos: Porque quem é Deus (Eloha) senão Yahweh? E quem é rochedo senão o nosso Deus? (Salmos 18:31).




A Trindade não é e nunca será relevante para a nossa salvação. E, afirmo isto com base exclusiva em João 17:3, além dos textos citados acima:



E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.



Jesus dirige a palavra ao Pai (v. 1) e afirma que a vida eterna (dada através do Filho v. 2) consiste em "conhecer" (Ginôskôsin - conhecer intimamente) este Pai como o "Único" Deus verdadeiro. O que significa a palavra "único" para o intérprete das escrituras?

Como pode um hermeneuta bíblico torcer este texto tão claro? Compare este texto com os seguintes:

1 Timóteo 2:5; 1 Cor. 8:4,6; Efésios 4:5,6; Tiago 2:19; Marcos 12:29 e 32; 1 Cor. 1:3; João 20:17 (aqui Jesus chama o Pai de "Meu Deus").



PROCESSO DE MUDANÇA


Podemos entender que houve a necessidade de se modificar o conceito unitário de Deus para o trinitário, mas foi preciso primeiro modificar o entendimento a respeito da natureza e ontologia de Jesus. 

A distorção começou com a ideia de que Jesus tinha uma preexistência humana e depois que Jesus tinha duas naturezas fundidas em um só ser, o que levou à encarnação.

A trindade fere o senso comum e lógico do ser humano, onde um ser possui duas naturezas, sendo 100% Deus e 100% homem.

Ora, se um ser é 100% Deus, ele é Deus 100%. Não cabe outra parte.
Se um ser é 100% homem, ele é homem 100%. Não cabe outra parte.

Ao criar este conceito de que Cristo é 100% Deus e 100 % homem (???), distorcemos o sentido de natureza comum e adotamos (implicitamente) a ideia de que este ser é uma criatura híbrida. Além disto, as implicações teológicas deste conceito são enormes, veja:

Se Jesus não perdeu a sua "parte 100% divina" quando esteve aqui na terra, o que ocorreu quando ele morreu? Para onde foi sua divindade? As escrituras são diretas em afirmar que Jesus "morreu" de fato por 3 dias (deixou de viver). Será que o mundo ficou sem Deus durante 3 dias? Cf. 1 Cor. 15:3; Rom. 5:6,8; Rom. 14:9.


Se somente a "parte 100% humana" morreu, pois JESUS COMO DEUS NÃO PODERIA MORRER, pois Deus não morre (1 Tim. 6:15,16), então poderíamos crer que o docetismo estaria com a razão e a morte de cruz foi apenas um belo teatro, cujo personagem principal era o próprio Deus. Enganando a todos, inclusive ao diabo. 

Eu vejo, portanto, o trinitarismo ligado intimamente com o docetismo.


Há os que entendem que Jesus teria que ser assim (100 % Deus e 100% homem), porque se não fosse como Deus, não poderia ter vencido o pecado e se não fosse humano, não poderia ter realizado o pagamento pelo preço da salvação da humanidade.


  • Eu pergunto: O pecado foi cometido por qual ser? Deus ou o homem?


A Soteriologia bíblica postula que o preço do pecado deveria ser pago apenas por um homem (seguindo a linha de Rom. 5:12,19 e 1 Cor. 15:21,22), digo isto com base numa questão de fato, a meu ver, bem simples:

Se o pecado foi cometido por um "homem" (homens pecam, Deus não), a lógica do ensino paulino é que somente por outro "homem", o pecado poderia ser destituído, pois com certeza Deus, por sua própria natureza estaria "impossibilitado" de realizar tal tarefa. Legalmente Deus nunca poderia pagar o preço do pecado.





Aliás, foi exatamente isto que aconteceu. O pecado foi destruído na cruz pelo sacrifício humano do próprio Cristo. Veja Hebreus 9:26,28 (Sacrifício e sangue são palavras muito fortes neste texto que enfatizam a realidade do ser de Cristo).



Ou seja, não foi o Pai quem realizou o sacrifício (patripassionismo), ou o Deus-Filho (100 % Deus e 100% homem). Foi o Filho de Deus com sua natureza plenamente humana. 


Outro fato interessante é que Paulo não compara Moisés com Adão, Abraão com Adão, mas Cristo com Adão, e ainda assim chama os dois de "homens", por que será?

Veja que Paulo nos fala de um homem, Jesus, para nos trazer a salvação, pois legalmente Deus não poderia fazer isto. Deus não peca e não pode morrer!


CONCLUSÃO


Você pode continuar aceitando como dogma quaisquer doutrinas, inclusive a trindade. Mas, para sua reflexão, penso que ela deve ser avaliada à luz dos escritos neo-testamentários e veterotestamentários, bem como conhecer o seu desenvolvimento ao longo da história.
Se você perceber que a doutrina não se encaixa com o padrão (cânon), rejeite-a imediatamente, mesmo às custas de quaisquer status ou posição que venha a ter em sua comunidade.


 ABANDONE A TRINDADE E VOLTE-SE PARA O ÚNICO DEUS!



MARCELO ALEXANDRE DO VALLE














NOTAS e REFERENCIAS

[1] (Reasonable Belief: A Survey of the Christian Faith, 1980, pág. 172).



[2] (The Trinity, 2002, págs. 1-2). 

[3]http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/a_santissima_trindade_nos_escritos_dos_santos_padres_dos_primeiros_seculos.html#I 

[4 ] http://www.catequisar.com.br/texto/materia/celebracoes/trindade/e_02.htm

[5] http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s1c2_50-141_po.html

[6] tradução de João 1:1 feita pelo Profº. Eloy A. Vargas
(FONTE: www.adoraiaocriador.com) 

[7] http://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/nwt/livros/Jo%C3%A3o/1/

[8] http://caraitas.org/articulos/gordon/elohim-parte-1.html