terça-feira, 19 de março de 2013

LIVRO DO APOCALIPSE - PARA NÓS HOJE?


Muitas idéias a respeito do livro do Apocalipse são veiculadas na internet, nos cadernos de estudos bíblicos das denominações e nos livros de hermenêutica. São feitas as mais diversas interpretações e enfoques de vários ângulos possíveis. 

Por ser carregado de muito simbolismo e imagens aterrorizantes, as pessoas não querem nem mesmo ler este livro, pensando que ele trata de coisas que anunciam o fim do mundo, anunciando portanto a chegada de um destino trágico para a humanidade. Têm medo do que o futuro possa trazer.


Outros pensam que cada parte do livro pode ser demonstrada nas sucessivas eras da história humana que se desenrolaram desde o 1º Século até os dias de hoje, e que até mesmo se estende a um futuro longínquo depois da 2a vinda de Cristo a esta terra.


Há até mesmo absurdos interpretativos em nome deste livro, por exemplo, que o papa é a besta que subiu do mar (Apoc. 13:1), que os Estados Unidos da América é a outra besta que subiu da terra (Apoc. 13:11). 

Que o livro ensina uma guerra literal que houve nos céus entre Miguel e os seus anjos e o dragão e os seus anjos. (Apocalipse 12:7-9) e isto tudo na presença imediata do Todo-Poderoso.....E outros mais...

Mas, será que aquilo que nos passaram como sendo a interpretação correta do apocalipse ou a que devemos seguir, não merece ser questionada?


Dois grandes problemas, a meu ver, permeiam a interpretação particular da biblia: 


1 - NÃO CONHECER A LINGUA ORIGINAL;

2 - NÃO CONHECER BEM AS TRADUÇÕES DA BÍBLIA.

É preciso compreender, mesmo que pouco, a lingua original da biblia (grego, hebraico e aramaico) e utilizar diversas versões (traduções) no estudo da mesma. A bíblia não chegou até nós prontinha para ser lida e também não foi escrita em língua portuguesa. todas as vezes que lermos nossas bíblias, é necessário ter em mente que o que temos em mãos é uma "tradução" da bíblia.


O que chegaram até nós foram os manuscritos em papiros, fragmentados e deteriorados, depois deram origem às edições críticas (como por exemplo a de Kurt Aland) e depois vieram as traduções (como a KJV King James Version, a ARC - Almeida Revista e Corrigida) e etc.


Para uma interpretação, no mínimo sadia das escrituras, existem os dicionários bíblicos, os comentários, os interlineares, que traduzem o texto literalmente, e isto tudo além de uma observação cuidadosa do próprio texto, do seu autor, a quem escreveu e o contexto histórico (chamado em teologia de SITZ IM LEBEN) em que se passa a narrativa do livro, para nos dar no mínimo uma interpretação mais segura possível. 


E isto, acrescentaria também que ao ler o texto, devemos estar preparados para que ele nos diga coisas que não queremos aceitar e que nossa visão denominacional deve ser abandonada se quisermos encontrar a verdade.


É óbvio que posso ser questionado quanto a aplicação do Livro de Apocalipse para os dias de hoje, como por exemplo a aplicação das cartas de Paulo, que apesar de terem sido escritas a um povo de sua época, servem para a  igreja da atualidade.


Mas, pensemos um pouco e com verdade: Tudo o que Paulo ensinou para as igrejas de sua época são de fato aplicadas aos cristãos de hoje? Com isto não estou negando a aplicação de princípios espirituais do apocalipse para a igreja hoje!


Paulo ensinou por exemplo, que as Mulheres deveriam estar caladas nas igrejas e que não tinham permissão nem de falar (1 Cor. 14:34) e que não tinham permissão de ensinar, mas que estivessem em silêncio. (1 Tim. 2:11,12); E que estes mandamentos eram provindos do Senhor (Cf. 1 Cor. 14:37).


Alguma igreja se habilitaria a cumprir ao pé da letra esta determinação apostólica? Ou haveria uma outra explicação? Qual?


Portanto, não se trata somente de aplicar a nós o que está escrito, porém, compreender o que o autor quis dizer e a quem ele quis dizer o que escreveu. No apocalipse é a mesma coisa.



O LIVRO DO APOCALIPSE FOI ESCRITO PARA QUAL TEMPO?

Vamos analisar Apocalipse 1:1 em 4 versões diferentes e tentar entender para qual tempo o autor do livro pretende nos levar, recorrendo ao texto grego e seu significado:



ACFRevelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo; 



NVIRevelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos o que em breve há de acontecer. Ele enviou o seu anjo para torná-la conhecida ao seu servo João, 



BJ - Revelação de Jesus Cristo, que Deus a concedeu para manifestar a seus servos o que há de suceder em breve, e enviou a seu anjo para dar a conhecer a seu servo João;



CNBBEsta é a revelação de Jesus Cristo: Deus a concedeu a Jesus, para ele mostrar aos seus servos as coisas que devem acontecer muito em breve. Deus enviou ao seu servo João o Anjo, que lhe mostrou estas coisas através de sinais.


Perceberam na parte grifada que nas 4 versões analisadas, existe uma limitação de tempo dada por João? João nos diz que as coisas que ele iria revelar, aconteceriam em breve, num espaço de tempo bem rápido


E, como posso confirmar isto?



Através de uma análise do texto grego, percebemos que a palavra traduzida em português por brevemente devem acontecer significa VIR A SER, EM RAPIDEZ. 

Elas estão dispostas no grego da seguinte forma:



genesthai  - (vir a ser)              -          en - (em)                        takhei - (rapidez)


Observem o texto grego do códice Sinaítico [1]


γενεϲθαι εν ταχει 



Agora observe o Novo Testamento em grego Nestle-Aland 26 [2]


GENESTHAI EN TAKHEI 









O vocábulo Taxei significa: Um breve período de tempo, com foco na velocidade de uma atividade ou evento. Velocidade, pressa, agilidade, rapidez. Para um período de tempo relativamente breve.


De acordo com o Lexicon de Arndt e Gingrich - Taxos - é utilizado na Septuaginta no sentido de velocidade, rapidez, pressa, de imediato. Na frase preposicional - EN TAXEI - a palavra é utilizada como advérbio na Septuaginta e por Josefo com o sentido de rapidamente, imediatamente, sem demora. [3].

O famoso erudito em grego e historiador da Igreja Kurt Aland comentando sobre Apocalipse 22:12 diz:

"No texto original a palavra grega usada é  - Taxu - e isso não significa depressa no sentido de algum dia, mas antes no sentido de agora, imediatamente
Portanto devemos entender Apocalipse 22:12 dessa forma: Estou vindo agora trazendo minha recompensa

A palavra conclusiva de Apocalipse 22:20 é: Aquele que testifica estas coisas diz: "certamente estou vindo depressa (...) O apocalipse expressa a espera fervorosa pelo fim dentro das circunstâncias nas quais o autor viveu - não uma expectativa que aconteceria em algum ponto X desconhecido no tempo (apenas para repetir isso) mas num ponto do presente imediato. [4].


A natureza do caso é tal que as coisas reveladas aqui devem acontecer dentro de pouco tempo. O tempo aoristo do infinitivo "vir a acontecer" reforça a verdade de que é necessária uma ação imediata. A frase traduzida por "brevemente" significa justamente isso — em breve, logo, depressa. (Grifos Meus).

Dois ou três mil anos já seria muito tarde. As coisas aqui reveladas devem sobrevir dentro em breve, ou a causa estará perdida — Domiciano acabará exterminando completamente o cristianismo. 
Qualquer tentativa para nos levar a entender outra coisa que não uma plena certeza será desconhecer a angustiosa situação das referidas igrejas. Elas, mais do que nunca, estavam precisando de certeza de ajuda num presente imediato — não para dali a um milênio, num futuro incerto e distante.[5] (grifos Meus)


Para dar mais suporte a esta interpretação, descrevo abaixo o método de interpretação preterista do apocalipse e seus pontos fortes, para a análise dos leitores:

1 - Ele considera a formação do livro. 

Nenhuma literatura poderá ser devidamente compreendida sem que se entenda a sua formação, o seu fundo histórico. 

Entendemos melhor os sonetos portugueses de Elizabeth Barrett Browning quando ficamos sabendo do desengano de que a livrou o seu amor por Roberto Browning.

Compreendemos o Scarlet Letter de Hawthorne, quando nos enfronhamos da dúbia moral dos tempos coloniais. E compreendemos melhor o Apocalipse quando conhecemos os bastidores da perseguição de Domiciano. O método preterista reconhece esta verdade. (Grifos Meus).

2 - O método preterista faz do livro do Apocalipse uma obra cheia de significado para aqueles que primeiro o receberam. 

O principal propósito do livro era revelar aos cristãos perseguidos o quanto Cristo lhes estava próximo e a certeza duma rápida vitória de Sua causa sobre as artimanhas imperiais de Roma. O método preterista parte deste princípio básico.

3 - Este método também dá lugar a uma aplicação universal da mensagem do livro. 

Assim como o Cristo ressurreto venceu toda a oposição daqueles primeiros dias, alcançará vitória igualmente sobre as turbulentas condições de qualquer época, inclusive a nossa.

Os pagãos podem movimentar-se e os povos podem imaginar coisas vãs, mas Deus está ainda no trono e Cristo ainda conserva as chaves da morte e do destino. Certamente este é um ponto forte deste método de interpretação.

4 - Este sistema esposa uma interpretação que é compatível com os ensinos escriturísticos do Novo Testamento. 

Pode-se adotar este método sem se admitir que o propósito de Deus na cruz de Cristo irá falhar e que Ele recorrerá à espada para estabelecer seu Reino.(*)

As mesmas verdades e princípios contidos nos ensinos de Jesus e na pregação e escritos dos apóstolos são encontrados no Apocalipse, quando adotamos este método de interpretação. [6]

O TEMPO ESTÁ PRÓXIMO? QUANDO?

Vamos analisar agora outra questão textual. É a expressão: O tempo está próximo. Está em Apocalipse 1:3. Atente para a parte grifada.

ACFBem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo. 


NVIFeliz aquele que lê as palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o que nela está escrito, porque o tempo está próximo 
Apocalipse 1:3

CNBBFeliz o leitor e os ouvintes se observarem as coisas nela escritas, porque o tempo está próximo

BJ - Ditoso o que lê e os que escutam as palavras desta profecia e guardem o que está escrito nela, porque o tempo está próximo.


Observem o texto grego do códice Sinaítico


ο γαρ καιροϲ εγγυϲ  



Agora observe o Novo Testamento em grego Nestle-Aland 26

O O (O) GAR (POIS) KAIROS (TEMPO FIXADO) EGGUS (PERTO)



Em todas as 4 versões observamos que João continua "limitando" o tempo de cumprimento da sua profecia. 

Destaco aqui duas palavras para confirmar: KAIROS e EGGUS;

KAIROS - TEMPO FIXADO

EGGUS - PERTO


KAIRÓS 

 léxico grego Liddell-Scott registra os seguintes sentidos para o termo kairós: justa medida, proporção, parte vital do corpo, tempo exato, momento crítico, estação, oportunidade.

Este termo é encontrado e definido desta forma no Léxico Aramaico Hebraico e Grego de STRONG:


de afinidade incerta; TDNT - 3:455,389; n m

1) medida exata

2) medida de tempo, maior ou menor porção de tempo, daí:

2a) tempo fixo e definido, tempo em que as coisas são conduzidas à crise, a esperada época decisiva

2b) tempo oportuno ou próprio

2c) tempo certo

2d) período limitado de tempo

2e) para o qual o tempo traz, o estado do tempo, as coisas e eventos do tempo


Veja estes textos: Mc. 1:14,15; Apoc. 1:3; Apoc. 11:18; Mat. 26:18


EGGUS 

1) Advérbio de espaço próximo, perto de (João 3:23), absolutamente perto, ao alcance da mão (João 19:42);


2) De tempo próximo, iminente, perto de (Mt. 26:18).

Podemos observar claramente que ambas as expressões não permitem interpretar esta passagem como algo que deve ser projetada para um futuro distante.


O tempo está próximo (Apoc. 1:3; 22:10). Para reforçar o conceito de que João estava escrevendo de eventos que logo se seguiriam, Jesus incluiu um lembrete adicional nos versículos de abertura e fechamento do livro. 

O tempo está próximo lembrava os leitores de que Deus logo cumpriria sua palavra neste livro. Palavras semelhantes em outras passagens falam de curtos períodos de tempo, e não de eventos que aconteceriam séculos mais tarde. 

Note:

Jesus falou da capacidade de prever a chegada do verão vendo as folhas numa figueira (Mateus 24:32; Lucas 21:30). Isto poderia ser dias ou semanas antes do verão, mas não poderia ser milhares de anos.

Jesus disse em Mateus 26:18, "O meu tempo (kairós) está próximo (eggus)". Ele morreu naquela semana. Seu tempo estava, de fato, muito perto.

João referiu-se várias vezes a festas que estavam se aproximando como "estando próxima" (João 2:13; 6:4; 7:2; 11:55). 

Está sempre claro que significava períodos de tempo muito curtos. Note nestes casos que o evento estava geralmente dentro de dias ou talvez semanas, mas jamais em séculos no futuro!


CONCLUSÃO

Ao analisarmos qualquer livro da bíblia  em especial o livro de apocalipse, devemos observar com cuidado o que o texto está dizendo e a quem está dizendo, e procurar o significado das palavras em seu idioma original para uma melhor compreensão.


Espero que os leitores tenham gostado da leitura deste artigo e possam refletir em seu conteúdo.



MARCELO VALLE                 









NOTAS

[1]  Códice Sinaítico, datado do século IV, localizado na biblioteca britânica, em Londres que contém o Novo Testamento completo. 
http://codexsinaiticus.org/en/manuscript.aspx?book=59&lid=en&side=r&zoomSlider=0

[2] http://dubitando.no.sapo.pt/Apoc.htm

[3] W. F. Arndt and F. W. Gingrich (A Greek English Lexicon of the New Testament, pp. 814,815)

[4] Kurt Aland - A History of Cristianity, vol. 1 - pág. 88

[5] Ray Summers - A Mensagem do Apocalipse - (Apocalipse 1:1-8 - Prefácio)

[6] Ray Summers - A Mensagem do Apocalipse (http://www.semeandovida.org/2010/01/mensagem-do-apocalipse-metodo-de_8800.html)

(*) Para ampliar a compreensão, leia o livro acima, para aprender sobre os 5 métodos de interpretação do apocalipse.

quinta-feira, 7 de março de 2013

DESCOBERTO MANUSCRITO DO NOVO TESTAMENTO DO SÉCULO 1

O Mais Antigo Manuscrito de Marcos! Será?PDFPrintE-mail
manuscrito_griegoPor: Leonardo Felicissimo
A blogesfera está agitada! A lista de feeds (assinaturas de postagens em formato rss) dos biblioblogs que assino está borbulhando de comentários sobre uma possível cópia do Evangelho de Marcos datada do primeiro século d.C.
Observatório Bìblico, do Professor Airton José da Silva descreve:
Um pequeno fragmento do Evangelho de Marcos, datado do século I, teria sido descoberto, segundo Dan Wallace.
Outros blogs que comentam sobre o assunto são citados pelo próprio Professor Airton José da Silva e também por Jonh Byron do The Biblical World.
Todos os comentários a respeito do tema surgiram a partir da postagem de Daniel B. Wallace – acadêmico do Novo Testamento – sobre um de seus debates com Barth Erhman, conhecido aqui no Brasil por sua publicação, O que Jesus disse, o que Jesus não disse, famoso por sua boa argumentação em debates e por sua atuação na área de alta crítica da Bíbia.
comentário do Dr. Wallace, no terceiro encontro da série de debates com Barth Ehrman a respeito do texto do Novo Testamento, apresentou como resposta ao questionamento de Ehrman sobre a antiguidade dos manuscritos de Marcos, a existência de um manuscrito datado do primeiro século d.C:
Temos até 18 manuscritos do segundo século (seis dos quais foram recentemente descobertos e não catalogados ainda) e um manuscrito do primeiro século do Evangelho de Marcos! Ao todo, mais do que 43% dos 8000 versos no Novo Testamento são encontrados nestes papiros. Bart disse explicitamente que a nossa cópia mais antiga de Marcos era de 200 d.C, mas isto agora está incorreto. Ele é do primeiro século. Mencionei este novo manuscrito encontrado e disse a platéia que um livro será publicado por E. J. Brill em cerca de um ano que dá todos os dados. (No Q & A, Barth questionou a validade do fragmento de Marcos do primeiro século. Notei que um paleógrafo de classe mundial, cujas qualificações são impecáveis, foi minha fonte. Bart disse que mesmo assim, nós não temos milhares de manuscritos do primeiro século! Este tipo de ceticismo é incompriensível para mim)
O Dr. Wallace não publicou qualquer outra informação a mais com relação a este manuscrito, e questionado por um usuário sobre maiores informações respondeu:
Queria poder dizer mais a você, contudo os domínios acadêmicos deste tipo são frequentemente mantidos em segredo até a publicação. Compartilhei tudo o que me foi dado permissão para compartilhar. Dentro de um ano, a partir de agora, o livro será lançado e tudo será conhecido.
Um comentário importante do Professor José Ribeiro Neto, do Emunah Editora, quanto a achados dessa magnitude é que estes achados, merecem antes de tudo nosso questionamento. Muitas fraudes e enganos com relação a importância e relevância de certos materiais podem vir a tona. No entanto, em um caso como este, vale considerar a citação e a autoridade por trás da citação, que tem por peso alguém do calibre do Dr. Daniel Wallace, uma das maiores autoridades no que diz respeito ao texto do Novo Testamento.
Seguindo o caminho dos demais biblioblogs que acompanho, não poderia deixar de citar ocomentário de Larry Hurtado, citado pelo Jonh Byron, Airton José da Silva e pelo Adcumulus como um texto que oferece importantes esclarecimentos sobre novos achados.
Larry Hurtado apresenta algumas informações a mais com relação ao "tal" papiro:
O fragmento em questão parece ser parte de uma coleção de papiros que compôem a chamada Green Collection. A figura chave listada como perito para a Greek Collection (Coleção Grega) é Scott Carroll.Uma das listas de postagens recentes de supostos fragmentos antigos de muitos escritos do NT (incluindo cópias de algumas cartas Paulinas alegadamente datadas do segundo século d.C).
E ainda acrescenta algumas notas que se deve levar em conta, enquanto aguardamos mais notícias sobre os supostos novos achados:
  • A datação e identificação paleografica dos manuscritos exigem enorme experiência específica para o período e textos em questão. Vamos esperar e ver qual julgamento está por trás das reivindicações.
  • Datação paleografica jamais pode somente ser aproximada, talvez em torno de 50 anos mais ou menos. Paleógrafos especialistas muitas vezes discordam sobre um determinado item em até um século ou mais. Nunca é aconselhável descansar sobre um veredito, e, a confiança só será reforçada quando vários especialistas tiverem acesso completo aos itens.
  • É particularmente dificil realizar uma datação paleográfica de um fragmento, quanto menor é, mais dificil se torna o trabalho. Tal datação requer tantos caracteres do alfabeto possíveis e tantas ocorrências deles na cópia quanto possíveis para chegar-se a um bom veredito sobre a "mão".
  • Embora aumente-se as vendas potenciais de uma publicação fazer grandes afirmações e inferências e aplicar inferências sensacionais sobre os itens, isso não ajuda o sóbrio trabalho acadêmico envolvido. Também na verdade não acumula qualquer crédito ou maior credibilidade para estes ou aqueles itens envolvidos em sua manipulação.
Muitas dúvidas estão surgindo de muitos acadêmicos das áreas de Novo Testamento e Crítica Textual do Antigo Textamento. Sem dúvida, um manuscrito próximo ao original muito pode ajudar na compreensão da história textual e na comparação com outros manuscritos posteriores.
Ansiedade, desconfinça e dúvida se misturam com relação ao comentário de Daniel B. Wallace. Contudo, segundo informações do próprio Wallace, precisaremos aguardar mais um ano para de fato termos um veredito final sobre o assunto.
Outros links sobre o assunto:
FONTE: http://emunaheditora.com.br/ultimas-do-emunah/117-o-mais-antigo-manuscrito-de-marcos-sera

domingo, 3 de março de 2013

VOCÊ ACREDITA EM DEUS? UMA REFLEXÃO

Pode parecer absurda e sem sentido a pergunta acima, principalmente levando-se em conta que os leitores deste blog com certeza acreditam na existência de Deus.

Esta reflexão, porém, quer abordar um outro aspecto. O que se trata de não somente "acreditar" em Deus , mas também ter uma intimidade com Ele, porém sem a mediação de quaisquer sistemas religiosos.

Quando em uma entrevista a um repórter da BBC em sua casa, JUNG foi questionado se acreditava em Deus. Sua resposta foi a seguinte:

EU NÃO ACREDITO, EU SEI!

Confesso que mesmo sabendo que tal resposta gerou polêmica e que ele teve que se "explicar" em outras entrevistas, fiquei refletindo no conteudo da resposta.


Em seu livro "Psicologia e Religião" é dito que ele chegou a esta conclusão observando as manifestações do inconsciente do proprio ser humano.


Mesmo sabendo que há diversidade de crenças e diversidade de deuses,  não vi nenhum ser humano (ATÉ ONDE EU SAIBA) oferecer uma resposta tão profunda como esta.  Muitos dizem: Eu acredito! Eu tenho fé! Eu creio! Eu não creio! etc. etc...Já li até sobre seres humanos dizendo: eu sou deus!

Mas, veja o quão profunda é a resposta de JUNG: EU NÃO ACREDITO, EU SEI!

Ele chegou a esta conclusão estudando com profundidade a natureza humana e sua psique e encontrou nela a resposta que queria para os mistérios da vida. Penso que, quanto mais ele conhecia o ser humano e se conhecia, mais ele percebia que este ser complexo carrega dentro de si um poder dado pela Divindade e que a religião na verdade é uma função da psique e que ao contrário de Freud, ela não é "uma neurose obsessiva".

A maneira como este ser expressa essa "religião" é encontrada nas diversas crenças existentes no mundo. Naquelas que crêem em apenas uma Divindade e naquelas que crêem em várias divindades.  Não estou tratando aqui de que esta ou aquela crença é certa ou errada. A questão aqui é puramente psicologica, não teológica.

Quantas vezes os leitores se depararam com o paradoxo da denominação a qual serviam? A denominação diz uma coisa e Deus diz outra? A denominação te ensina uma coisa e a palavra te ensina outra? E, quantas vezes entraram em conflito, porque te disseram que abandonar a denominação é abandonar Deus?
Estou falando do mesmo aspecto psicológico, porém trazendo-o agora para a nossa realidade cristã.

Pela resposta de JUNG, posso compreender que "olhar" para Deus  e ter comunhão com Ele, espiritualmente significa primeiro olhar para dentro de si mesmo e ver que uma "pequena parte" ou quem sabe "uma grande parte" da Divindade habita em nós, afinal, fomos feitos à sua imagem e semelhança.

Como um Deus que está longe, ou que seja "totalmente outro" pode compreender e se aproximar do ser humano que ele criou? Um ser que "está no céu" pode entender e responder ao humano aqui na terra?

Qualquer pessoa que esteja aprendendo a conhecer a Si mesmo e a entender a vida e seus mistérios, pode responder como JUNG: Eu não acredito, eu sei!

Uma breve reflexão!!

MARCELO VALLE