segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O TEÓLOGO NO "VALLE"


Quando decidi cursar teologia, foi preciso um enfrentamento comigo mesmo e com as condições adversas que se apresentavam a mim, na época. Estava no final de 2010 e comecinho de 2011 e o coração pedia que não passasse do próximo ano. Não passou. Iniciei em Fevereiro de 2011.

Desde criança sempre fui muito aplicado aos estudos e na igreja que frequentava então, eu percebia que não se questionava muito certos ensinos, o que me deixava muito triste porque eu tinha sede de aprender, de entender, de conhecer melhor. Esse espírito juvenil de questionador sempre esteve comigo!

A vida religiosa, pensava eu, não deveria ser pautada apenas no "subjetivo", do tipo: eu sinto, eu acho que, eu ouvi assim e penso que deve ser assim, porém baseado em entendimento bíblico fundamentado. Algo sólido, algo em que pudéssemos nos apoiar.

Por que praticamos isto? Porque a bíblia  de acordo com certas regras nos ensina como se deve praticar isto! O contrário também é válido. Não praticamos isto, porque pesquisamos e compreendemos que não há necessidade de tal prática. Estes são exemplos bem ínfimos do que estou tentando afirmar.

Como criança e depois adolescente, buscava por mim mesmo realizar um estudo com algumas bases que encontrei sozinho, como por exemplo, deixar que a própria bíblia se auto-interpretasse. Eu sempre procurava encontrar paralelos onde uma passagem pudesse ser compreendida em outra. Aprendi a usar as referencias bíblicas ao rodapé, onde algumas passagens se conectavam à outras e assim fui aprendendo. Meus esforços foram recompensados.

Adquiri conhecimento bíblico, uma formação moral bíblica sólida e um carinho e respeito profundo pelas escrituras. Conhecer O Jesus da bíblia foi como encontrar uma pérola em alto mar.

Às vezes me perguntam: Por que você questiona demais a bíblia? Eu respondo: Não questiono a bíblia, mas o que dizem sobre ela. Eu questiono a interpretação que grupos religiosos e pessoas dão à bíblia. Teólogo faz isto, além de outras coisas.

O que é teologia?

Teologia ( theos = "divindade" + logos = "palavra", por extensão, "estudo, análise, consideração, discurso sobre alguma coisa ou algo"), no sentido literal, é o estudo racional e sistemático acerca da divindade (sua essênciaexistência e atributos). Pode também referir-se a uma doutrina ou sistema particular de crenças religiosas - tal como a teologia judaica, a teologia cristã, a teologia islâmica e assim por diante.

De acordo com a definição hegeliana (Hegel, filósofo e teólogo alemão), a teologia é o estudo das manifestações sociais de grupos em relação às divindades. Como toda área do conhecimento, possui então objetos de estudo definidos. Como não é possível estudar Deus diretamente, pois somente se pode estudar aquilo que se pode observar e se torna atual, o objeto da teologia seriam as representações sociais do divino nas diferentes culturas.

Assim, a teologia pode referir-se a várias religiões. Existem, portanto, a teologia hindu, a teologia judaica, a teologia budista, a teologia islâmica, a teologia cristã (incluindo a teologia católica-romana, a teologia protestante, a teologia mórmon e outras), a teologia umbandista e outras. [1]


Por que Teologia?

Sinceramente, não sei. Está no meu DNA. Eu sempre fui inclinado a estudar teologia, sempre. Está no sangue, está no coração. Eu precisava um dia encontrar um lugar onde este desejo pudesse ser realizado. Encontrei. Foi tão bom, que ano que vem vou partir para a especialização...O mestrado em exegese do Antigo Testamento.

O INSTITUTO AVANÇADO DE TEOLOGIA MIESPERANZA - RIO DAS OSTRAS foi o local onde aprendi a fazer e viver TEOLOGIA. Tive a honra de encontrar colegas e mestres de todos os tipos e padrões, e em especial não poderia deixar de citar o excelente mestre que tive ao longo destes três anos, o Dr. Zilmar Ferreira Freitas, doutor em teologia e Psicanálise. 

Excelente professor, profundo em suas abordagens, crítico do atual sistema religioso e acima de tudo, uma pessoa que respeita e auxilia profundamente seus alunos. Aprendi muito com este homem.

Tive colegas de classe excepcionais com os quais aprendi muito também. Em especial, cito o meu amigo Marcos Cavararo, que é batista confessional, mas é crítico do sistema religioso atual e faz teologia com seriedade, além de possuir uma memória notável. Com ele tive muitas afinidades e um profundo respeito.


Objetivos Claros?

Sim, aprender a aprender para ensinar corretamente. A verdade bíblica  e os aspectos religiosos não podem ser ensinados por quem não entende seus pressupostos. Ainda existem muitas coisas importantes a serem descobertas na palavra de Deus e o teólogo sério e comprometido irá buscar tudo isto para iluminar a vida das pessoas que necessitem de luz. 

Todas as ferramentas importantes para que isto ocorra, o teólogo irá utilizar, pois ele lida com almas humanas e como dizia JUNG, ao lidar com uma alma humana, seja outra alma humana.

O teólogo é uma pessoa que pesquisa, estuda, compara os diferentes aspectos, sejam sociais, psicológicos, antropológicos e suas relações com as diferentes religiões e as relações com a Divindade. Acima de tudo, ele é uma pessoa que respeita profundamente as divergências religiosas, pois sabe que a religião é um aspecto da psique humana. 

Enfim, a teologia está no coração. Na mente. Na vida. Faz parte de mim, inseparável. 

Espero que o próximo ano me traga muitas bênçãos, como as que recebi ao longo destes três anos que passou. E que meus objetivos nesta área tão nobre, tao essencial, possa ser efetivada na minha vida e na vida daqueles que compartilharão suas experiencias comigo.

Espero utilizar o conhecimento teológico de uma forma bem abrangente e que seja de forma a beneficiar todas as pessoas, servindo-as e auxiliando-as a compreender os mistérios da criação Divina e sua própria experiencia religiosa.



Para meditar

"Deus cria à partir do nada. Portanto, enquanto um homem não for nada, Deus nada poderá fazer com ele" [2]



MARCELO VALLE




NOTAS

[2] Martinho Lutero

domingo, 22 de dezembro de 2013

Em que sentido Cristo foi tentado? Uma reflexão!


Inicio esta reflexão com uma pergunta: Será que a tentação de Cristo no deserto serve de modelo para a nossa tentação diária? Em que sentido?

A cristandade de modo geral aponta a tentação de Cristo como um suposto modelo para a tentação dos cristãos por Satanás. Mas, paradoxalmente, reconhecem, mesmo que implicitamente, que nenhum cristão jamais experimentou uma tentação de igual nível.

Um ponto importante a ser destacado é que nos relatos sinóticos da tentação, os textos nos dão algumas informações que na atualidade os cristãos passam ao largo, sem nenhuma percepção. Comparem:

1 - Mateus 4:1,2 (AA) - Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome.


2 - Lucas 4:2,3Jesus, pois, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão; e era levado pelo Espírito no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo Diabo. E naqueles dias não comeu coisa alguma; e terminados eles, teve fome.


3 - Marcos 1:12,13Imediatamente o Espírito o impeliu para o deserto. E esteve no deserto quarenta dias sendo tentado por Satanás; estava entre as feras, e os anjos o serviam.



Mateus parece nos dizer que a tentação só começou após os 40 dias. Compreendam que o advérbio "depois" indica tempo da ação ocorrida. 

Os textos de Lucas e de Marcos se complementam e informam que a tentação ocorreu "durante" os 40 dias que Cristo esteve no deserto. Ou seja, podemos deduzir que Cristo não se ausentou do deserto enquanto sofreu a tentação.


Estes textos são ricos em detalhes que se fossem apresentados aqui demandaria muito espaço e mais produção de textos explicativos. O que pretendo, porém, é focar apenas em dois pontos

1 - Que Cristo não se ausentou do deserto durante a tentação;
2 - Que esta tentação não foi feita por um ser sobrenatural.

Entendam bem que não estou "negando" a tentação de Cristo por "satanás". Estou "negando" que este "satanás" teria sido o anjo rebelde que caiu do céu e exporei minhas razões.

Muitos lêem e eu mesmo já fiz essa leitura do texto, sempre entendendo que na sequencia do relato os evangelistas mostram que Jesus vai a diversos lugares sendo levado por Satanás. Mas, se entendermos dessa forma, o contexto fica sem sentido. E por quê?

Ora, Se Jesus "não" se ausentou do deserto (compare os 3 relatos acima), como poderia ter sido levado ao "pináculo do templo em Jerusalém" e  ao "monte muito alto", onde viu todos os reinos do mundo?

Reflita por um instante, que distancia aproximada teria do deserto da Judéia onde Cristo estava, até o templo de Jerusalém? Você como cristão admitiria que Deus permitiu ao seu maior inimigo carregar o Seu próprio Filho nesta distancia? Será que ninguém em Jerusalém teria presenciado tal fato?

Reflita por um instante, que "montanha" elevada seria esta, onde de seu topo Cristo poderia contemplar de um relance, todos os reinos do mundo? Sem contar, é claro, que o suposto anjo tentador oferece a Jesus algo que não lhe pertenceu? Onde está escrito que os reinos do mundo pertencem ao anjo do mal? 

O livro de Hebreus mostra um notável paralelo entre a humanidade de Cristo e a nossa em profunda relação de natureza. Se o processo de tentação de Cristo fosse diferente do nosso, ou o nosso fosse diferente do de Cristo, ele jamais poderia ser qualificado como nosso Sacerdote. 

Veja abaixo os dois relatos de Hebreus:

Hebreus 2:17,18 - Pelo que convinha que em tudo fosse feito semelhante a seus irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e fiel nas coisas concernentes a Deus, a fim de fazer propiciação pelos pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.


Hebreus 4:15 - Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.



Hebreus 2:17,18 diz que Cristo sofreu a tentação, a fim de identificar-se com a nossa tentação e Hebreus 4:15 afirma claramente que o processo da tentação de Cristo era idêntico ao nosso (como nós, em tudo foi tentado). 


Estas declarações não podem ser verdade, se Cristo foi tentado pelo diabo, de forma totalmente diferente do processo da tentação a que estamos sujeitos. 
Se o ponto de vista "ortodoxo" de satanás for verdade, então devemos experimentar o mesmo processo da tentação como se supõe ter ocorrido com Cristo - um ser sobrenatural literal e visível que vem até nós e nos atrai em uma conversa, num esforço para nos levar ao pecado. É fato que se tivermos que cumprir as escrituras, neste sentido nossa vida ficaria defeituosa.

Considere também o seguinte: Por que Cristo acharia atraente um tipo de tentação como o cristianismo ortodoxo ensina? Sabendo que diante de si estava um anjo mal induzindo-o a errar, ele realmente sucumbiria diante desta tentação? Conhecendo que "o anjo mal" está diante de você querendo tentá-lo, você cairá diante dos argumentos dele? 


Duncan Heaster, em seu livro - The Real Devil -  nos informa o seguinte:

"Parece improvável que várias vezes o diabo tenha levado Jesus através do deserto e nas ruas de Jerusalém e depois escalado o pináculo do templo juntos, tudo em vista dos judeus curiosos. Josefo não faz registro de nada parecido com isso acontecendo e provavelmente teria causado uma grande celeuma. 

Da mesma forma, se essas tentações ocorreram várias vezes no prazo de 40 dias, bem como no final desse período (o que ocorreu pelo menos duas vezes, Mateus e Lucas os tem em ordem diferente), como é que Jesus teve tempo para subir a montanha mais alta ( o diabo "levou" Jesus, que poderia ter sido o monte Hermon, no extremo norte de Israel), escalando até o topo e voltando ao deserto novamente? 
Todas as tentações ocorreram no deserto e lá permaneceu por 40 dias - Ele estava lá durante quarenta dias, sendo tentado o tempo todo pelo diabo (ele só saiu no final -. Mateus 4:11). Se Jesus foi tentado pelo diabo a cada dia, e as tentações só ocorreram no deserto, então segue-se que Jesus não poderia ter deixado o deserto para ir a Jerusalém ou percorrido uma alta montanha. Estas coisas, portanto, não poderiam  ter literalmente acontecido com Cristo".

O que as pessoas não compreenderam ainda, é que todo o processo de tentação que o ser humano sofre está na dimensão pessoal, psicológica. Não existe tentação que não proceda de dentro de você e que para ser completa, ela precisa encontrar resposta dentro de você, a priori.
O próprio Jesus ensina que de dentro do coração (mente) dos homens procedem toda espécie de males: 

Faça uma leitura atenta destes dois textos abaixo e veja quão claramente o ensino da bíblia refuta a ideia de que a fonte da tentação seria um ser sobrenatural do mal, externamente. São eles:


Marcos 7:21-23 - Pois é do interior, do coração dos homens, que procedem os maus pensamentos, as prostituições, os furtos, os homicídios, os adultérios, a cobiça, as maldades, o dolo, a libertinagem, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a insensatez; todas estas más coisas procedem de dentro e contaminam o homem.

Tiago 1:14,15 - Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência; então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.


Eu grifei intencionalmente as palavras "soberba" e "cobiça" em Marcos, por entender que Cristo sofreu isto também durante sua vida e não somente no deserto. 
Em Tiago, a expressão "Cada um" mostra que o processo de tentação é o mesmo para qualquer homem ou mulher. Ele se dá internamente (sua "própria" concupiscência).

Jesus para ter sido nosso sumo-sacerdote, tentado em tudo como nós, com certeza passou pelo processo de ter que rejeitar  a cobiça e a soberba de como Filho de Deus achar que tinha privilégios maiores que os nossos. Pelo contrário, humildemente se colocou na posição de Servo. Aqui, a Cristologia de filipenses 2:5-10 ganha sentido.

Quem ou o que tentou Cristo no deserto?

O Vocábulo "satanás" é frequentemente mal compreendido e adotado no meio cristão como nome pessoal de um suposto anjo rebelde, inimigo de Deus. Atente para as definições abaixo:

De acordo com Scharf-Kluger, a palavra satan, em sua forma verbal significa literalmente perseguição por meio do impedimento de se fazer um movimento livre para frente. Como substantivo significa um adversário ou um acusador. Assim a palavra era de uso frequente na linguagem coloquial. De fato o próprio Yahvéh (ou o anjo de Yahvéh) pôde provar-se como um adversário (satan) para o homem, como vemos na narrativa de Balaão em Números, capítulo 22. (SCHARF-KLUGER? apud SANFORD, 1988, p. 42, grifos nossos).


As palavras derivadas do termo hebraico “satan” aparecem 33 vezes, em 28 versos do texto hebraico do Antigo Testamento, geralmente com o sentido de “oposição, obstrução ou adversário”. Como essas, as demais indicam um adversário ou ideia semelhante, sem qualquer carga pessoal no vocábulo ou indicação de personagem celestial. O termo funcionava como um adjetivo usado com referencia a pessoas ou realidades que se opunham. (MIRANDA, 2007, p.16,17, grifos nossos).

Se entendermos que Cristo era um ser humano como nós, foi tentado em tudo como nós, conforme os textos citados acima em contexto, e depois de conhecer o verdadeiro significado do vocábulo "satan", é certo que esta tentação se deu na própria mente de Jesus, internamente.

É improvável que este relato tenha sido projetado para ser um verdadeiro encontro entre um ser "adversário de Deus" e Jesus, porque as escrituras hebraicas que são o modelo de compreensão sobre satan no antigo testamento, não mostram nenhuma doutrina acerca de satan como ser sobrenatural do mal. Faz sentido entender que tudo se dá na mente de Jesus, principalmente por entender que é o próprio "Espirito de Deus" que o impele a tentação. Ora, poderiamos conceber uma ação conjunta entre Deus e o suposto anjo mal para tentar seu Filho? Claro que não!

Vou deixar intencionalmente muitas questões em aberto, para aguçar o desejo daquele que se interessar, em tentar encontrar nas escrituras as respostas às questões aqui abordadas.
Respondendo portanto à questão colocada inicialmente: Será que a tentação de Cristo no deserto serve de modelo para a nossa tentação diária? Em que sentido?

Ela é exatamente igual à nossa se Cristo sofreu o mesmo processo que sofremos diariamente, onde as tentações se dão na dimensão psicologica. Á maneira ortodoxa ensinada, jamais poderemos ser tentados como Cristo o foi.


"As tentações foram controladas por Deus para a educação espiritual de Cristo. Os trechos biblicos citados por Jesus fortaleciam-no contra os seus desejos ("Diabo") e todos pertencem à mesma parte do Deuteronômio, referindo-se a experiência de Israel no deserto. Jesus viu claramente um paralelo entre sua experiência e a deles" (Duncan Heaster - The Real Devil).



Marcelo Valle 




NOTAS:

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Ezequiel 28:13-15 fala sobre algum "anjo rebelde" e de onde caiu?

Continuando a postagem anterior, onde dissemos que algumas crenças comuns entram em choque com o ensino das escrituras, vamos dar prosseguimento ao assunto, tratando de um tema muito comum no entendimento das pessoas. 

Como disse anteriormente, proponho com esta reflexão, um "re-exame" do assunto, a fim de trazer à superfície a verdadeira "identidade" deste personagem que está escondido sob a tradição cristã e com isto verificar o que a bíblia nos diz realmente sobre Ele.

Para ler sobre a mentira do nome Lúcifer na passagem de Isaías 14:12, leia aqui: http://valle-teologo.blogspot.com.br/2013/06/mentiras-que-se-perpetuam-como-verdades.html


O cristianismo tradicional ensina que Ezequiel 28:13-15 mostra onde "o anjo rebelde" vivia e de onde caiu. Será?




Como teólogo, aprendí em nosso Instituto que uma regra muito importante para uma boa interpretação bíblica é considerar o contexto da passagem e observar cuidadosamente o que o texto está dizendo e a quem está dizendo.

Contextualizar e observar são regras-chave para uma interpretação sadia da bíblia.  Infelizmente quando algo não nos convém, esquecemos desse detalhe e isto ocorre quando queremos "ver" no versículo algo que ele absolutamente não mostra. O contexto é mostrado nos versiculos imediatamente anteriores e posteriores, como também em capitulos anteriores  e posteriores, sendo este um ponto muito importante.

Como primeiro ponto, podemos dar uma rápida olhada no v.2 de Ezequiel 28 para nos mostrar para quem está sendo dirigida a mensagem: O principe de Tiro.

Filho do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o Senhor Deus: Visto como se elevou o teu coração, e disseste: Eu sou um deus, na cadeira dos deuses me assento, no meio dos mares; todavia tu és homem, e não deus, embora consideres o teu coração como se fora o coração de um deus. [Ezequiel 28:2].

No segundo ponto, vemos que no mesmo versículo este príncipe (talvez em estado de rebeldia para com o Criador) afirma o seguinte:




"Eu sou um deus, na cadeira dos deuses me assento, no meio dos mares" (AA)
Interessante que na Biblia de Jerusalem e na Biblia CNBB está dito assim:


BJ - ...Sou um deus, estou sentado em trono divino no coração dos mares...

CNBB - ...Eu sou um deus, sentado em trono divino, bem no coração do mar...

O próprio contexto de Ezequiel 28 mostra que o Rei de Tiro (provavelmente Itobaal II) se considerava um Deus (v.2a), mas Deus afirma que: ELE É HOMEM E NÃO DEUS (v.2b).




As pessoas normalmente "saltam" destes versos de abertura e vão direto ao v. 13, para favorecer sua visão do anjo rebelde.



OBSERVE MAIS ALGUNS DETALHES

Quem mais utiliza o termo “querubim” é o profeta Ezequiel;

A palavra “kerubim” vem do tronco verbal “karab” que significa “estar ao lado”, “proteger”;


A sabedoria do Rei de Tiro mais do que a de Daniel (v.3), mostra que Ele a adquiriu pela sua capacidade de aumentar suas riquezas através do comércio (v. 4,5) e este foi seu orgulho.

Se Satanás era um anjo rebelde neste texto de Ezequiel, por que Ele é descrito como homem que descerá à cova e que morrerá no meio dos mares? (Ez. 28:8-10).


Considerando capitulos anteriores (contextualizando), a interpretação correta se reforça, veja:


Ezequiel 26:15-17 - Assim diz o Senhor Deus a TIRO: Acaso não tremerão as ilhas com o estrondo da tua queda, quando gemerem os feridos, quando se fizer a matança no meio de ti?
Então todos os príncipes do mar descerão dos seus tronos, e porão de lado os seus mantos, e despirão as suas vestes bordadas; de tremores se vestirão; sobre a terra se assentarão; e estremecerão a cada momento, e de ti se espantarão.
E farão uma lamentação sobre ti, e te dirão: Como pereceste, ó povoada de navegantes, ó cidade afamada, que foste forte no mar! tu e os teus moradores que atemorizastes a todos os que habitam ao teu redor!

 E dize a Tiro, que habita na entrada do mar, e negocia com os povos em muitas ilhas: Assim diz o Senhor Deus: ó Tiro, tu dizes: Eu sou perfeita em formosura. [Ezequiel 27:3].

No seu pranto farão uma lamentação sobre ti, na qual dirão: Quem foi como Tiro, como a que está reduzida ao silêncio no meio do mar?
Quando as tuas mercadorias eram exportadas pelos mares, fartaste a muitos povos; com a multidão das tuas riquezas e das tuas mercadorias, enriqueceste os reis da terra. [Ezequiel 27:32-33].


Veja que sempre os textos falam sobre uma cidade e seu governante, que eram grandes mercadores e que enriqueciam seus vizinhos. 






Para um entendimento, portanto, contextualizado de Ezequiel 28, sugiro que o leitor volte atrás e leia os capítulos 26 e 27, com atenção nos seguintes detalhes:

1 – Ezequiel profetiza a destruição de Tiro por Nabucodonozor (Ez. 26:3,7, 21), porque Tiro se engrandeceu sobre Jerusalém (v. 2);

2 – O Rei de tiro (UM SER HUMANO) enriquecia os comerciantes da época com seus extensos negócios.

Exemplos: Ezequiel 26:12, 27:1-36

3 – Ser denominado de “perfeito em formosura” se refere a glória e beleza de toda a nação de Tiro e não a um suposto ser angelical antes da queda. 

A nação de Israel também foi descrita por Deus como “perfeita em formosura”. (leia Ezequiel 16:14,15 / Salmos 50:2), inclusive foi corrompida depois por se achar assim.

4 – Tanto Éden, como Harã, Cane, os mercadores de Sabá, Assur e Quilmade eram regiões que negociavam com Tiro; 

Portanto,  não se referem ao jardim do Éden (de Genesis), como querem os defensores desta interpretação. (Ez. 27:23,24).

5 - Leia Ezequiel 31 e confira que a expressão “jardim de Deus” se refere a uma região da mesopotâmia, onde o profeta usa a metáfora das “árvores” para simbolizar as nações daquela região. (Ez. 31: 8,9,16). Este capítulo é uma profecia ao Rei do Egito. (v.2).

Desta forma a figura da cidade de Tiro é mostrada como uma árvore no monte santo de Deus, cheia de riquezas e perfeita, até o dia que em que se achou inquidade nela.



UMA ÚLTIMA OLHADA


Vamos supor que o texto realmente ensina que um anjo rebelde estava no céu e que de lá fora expulso. Ora o texto de Ezequiel 28:13 afirma que este suposto "anjo" estava no Éden, chamado aqui por "jardim de Deus".

Pergunto: Onde fica o JARDIM DO ÉDEN,  no céu ou na terra?



A interpretação tradicional fica prejudicada, porque qualquer um sabe que o Éden é uma região situada onde hoje está o Iraque e que absolutamente não se refere a alguma localização no céu, até porque o próprio livro de gênesis ensina que o primeiro homem fora colocado no jardim para lavrar e cultivar o solo de onde fora formado. (Cf. Genesis 2:15).


Se o jardim é na terra, como de fato o é, a interpretação tradicional carece de sentido, pois a passagem afirma que ele foi "expulso" ou "lançado" (v.17). 
Para onde? Do jardim para qual lugar? 

Leia Genesis 3:23,24 e confirme que somente Adão e Eva foram "lançados", "expulsos" do jardim do Éden. E a suposta serpente incorporada pelo anjo rebelde, para onde foi?

Então, é óbvio que esta interpretação tradicional de que Ezequiel 28:13 ensina que "satan" estava no céu, é mais uma mentira que foi falada, e que os cristãos aceitam sem questionar.

Por favor, leiam e releiam o artigo, conferindo as passagens indicadas e tirem suas conclusões!

As vezes eu penso que manter a crença no diabo é uma ferramenta para manipular a fé das pessoas, pois este se torna um mecanismo de defesa usado para projetar nossos erros em alguém fora de nós, ao invés de reconhecermos que nós mesmos é que erramos e voltarmos de coração leal e genuino ao nosso Deus...


A ORIGEM DA IDEIA

Para finalizar, gostaria de apontar de onde os cristãos da atualidade copiaram esta interpretação, que Ezequiel estaria falando sobre a queda do anjo rebelde:

"Orígenes desenvolveu a ideia de que Deus pagou um resgate ao Diabo para nossa salvação, e que o resgate foi o sangue de seu Filho Jesus (ideia muito comum no cristianismo atual). Uma vez que Cristo era Deus (doutrina da trindade), Cristo ressuscitou dos mortos e, portanto, o Diabo foi feito de bobo, e defraudado do seu poder. Esta tentativa de preservar a justiça de Deus parece-me alcançar o extremo oposto. 
Não só é tudo isso um desrespeito ao ensinamento do Novo Testamento sobre a expiação, mas a ideia de Deus ter que recorrer à fraude e ao engano de Satanás, está completamente fora de sintonia com a revelação bíblica sobre Deus.

Orígenes também foi o primeiro a usar a passagem de Isaías 14 sobre o rei da Babilônia, em apoio da doutrina do diabo cristão. Esta passagem, em realidade fala do rei humano da Babilônia como a mais brilhante das estrelas, a estrela da manhã [Latim "Lúcifer"], que metaforicamente "caiu". Significativamente, a "estrela da manhã" é um título de Cristo, e tinha sido usado no primeiro século como um "nome cristão" por aqueles que se converteram ao cristianismo. Mas Ele procurou dar à "Lúcifer" uma conotação negativa. Da mesma forma, Orígenes foi pressionado em usar uma passagem similar sobre a queda do príncipe de Tiro em Ezequiel 28. Ele usou até mesmo em Jó, a referência à enorme besta Leviatã, como sendo "Satanás". (Jó 41:1,2) .

Durante a discussão, Orígenes abandonou a ideia de que o relato de Gênesis 6 sobre a passagem dos filhos de Deus se casando com as filhas dos homens diz sobre os anjos caídos, pois isto confundiu logicamente suas idéias de que os anjos do diabo caíram no inferno após o seu pecado inicial. 
Ele estava preocupado em provar que a justiça de Deus sempre foi acolhida, pois esta era uma crítica freqüente feita à doutrina do diabo pessoal. 
Então foi forçado a saber se todos os anjos caídos estão acorrentados, se sim, por que estão supostamente em atividade? Sua resposta foi a formulação de teorias sobre os demônios que são capazes de entrar e sair do inferno para tentar as pessoas na terra, e alguns anjos caídos ainda estejam ativos no ar. Tudo isso, obviamente, sem o menor respaldo bíblico".


Esta é mais uma reflexão sobre o tema.

Que o Eterno abençoe a todos!

MARCELO VALLE





terça-feira, 22 de outubro de 2013

"Quem" ou "o que" é o diabo para o cristianismo? Uma leitura sem as lentes da ortodoxia cristã


Por uma leitura atenta da bíblia sem as lentes da chamada "ortodoxia cristã", podemos depreender que algumas crenças comuns entram em choque com o ensino das escrituras e que não conseguem, afinal, entrar em acordo sob alguns pontos importantes. Um desses pontos é a respeito de "quem ou o que" é o diabo.

Infelizmente o que percebo é que nossa leitura da biblia está influenciada demais pelos chamados concilios eclesiásticos (Nicéia, Constantinopla e Calcedonia) além de carregar em nossa bagagem, conceitos que vêm de poetas e filósofos que absolutamente nada têm a ver com a formação das escrituras sagradas. E por este motivo, toda nossa crença a respeito de qualquer questão, como a de quem ou o que é o diabo, inevitavelmente se inclinará para este mesmo lado, com uma falsa roupagem cristã. 
E o resultado disso: Um cristianismo cheio de misticismo e lendas, que vive constantemente com medo do mal.


Proponho com esta reflexão, um "re-exame" do assunto, a fim de trazer à superfície a verdadeira "identidade" deste personagem que está escondido sob a tradição cristã e com isto verificar o que a bíblia nos diz realmente sobre Ele. 

  • Será que a bíblia apóia a ideia de que o diabo é um ser sobrenatural? Onde estaria o texto bíblico que comprova esta afirmação?
  • O que significam as palavras "diabo" e "satanás" na bíblia? Somente se referem a este ser rebelde ou tem um sentido amplo?
  • Onde se encontra na bíblia que o diabo foi algum dia um "anjo de Deus" que se rebelou nos céus? 

De um modo geral no mundo, especialmente no chamado mundo "cristão", existe a ideia de que as coisas boas na vida vêm de Deus e as coisas ruins do Diabo. Esta não é uma idéia nova; nem mesmo é uma idéia apenas limitada ao cristianismo apóstata. 

Os babilônios, por exemplo, acreditavam que havia dois deuses, um deus do bem e da luz, e um deus do mal e das trevas, e que estes dois travavam combate mortal. 
Ciro, o grande rei da Pérsia, acreditava exatamente nisso. 

Por isso Deus disse a ele, "Eu sou o Senhor, e não há outro, fora de mim não há Deus...Eu formo a luz, e crio as trevas, eu faço a paz, e crio o mal ("desgraça" na Nova Versão Internacional); eu, o Senhor, faço todas estas coisas" (Is. 45:5-7, 22). 

Deus cria a paz e Ele cria o mal ou desastre. Neste sentido Deus é o autor, o criador do "mal".



Um pequeno exemplo de como nossos conceitos não vêm da bíblia, é o seguinte: Qual de nós já não ouviu dizer a seguinte frase:

A maior estratégia do diabo é fazer você acreditar que ele não existe.

Pois bem, esta frase, tão repetida por muitos cristãos foi criada por um poeta francês chamado "Charles Baudelaire" no livro intitulado "As Flores do Mal". A frase exatamente é assim:

O maior truque do diabo foi convencer o mundo de que ele não existe

E onde entra o cristianismo nessa história?  Entra ao copiar conceitos que ouviu, não sabe de onde e repetiu ao longo de séculos, que de tanto repetir acabou "se tornando" uma verdade. Verdade, para os que creem nela. 

Podemos encarar o problema de frente, elaborando algumas perguntas que julgo serem importantes, e que penso que todo cristão deveria fazer a si próprio e buscar, como tesouro escondido, as repostas na biblia para elas:

Vamos levantar a problemática sobre o assunto e refletir em cima do que cremos e comparar com o que as escrituras dizem.....Vamos fazer o teste?


PERGUNTAS

1) O diabo era um anjo no céu e foi "lançado" a terra - no Éden, conforme Apocalipse 12:7-9?

2) Ele incorporou a serpente para tentar Eva, conforme Genesis 3:1-5? Mas os versiculos 14 a 17  só mostram 3 seres sendo punidos, onde estaria aí o diabo (o 4º ser)?.

3) Em Isaías 14:12 "caiu" do céu, ou seja, foi "lançado" de novo à terra...(???), mas já não tinha sido expulso do céu?

4) Quando, afinal, ele foi lançado à terra? Qual texto biblico confima isto?

5) Em Ezequiel 28:13,17 diz que ele era um "querubim", estava no Éden e que era perfeito em formosura e que "por terra" foi lançado. Mas, onde é o Éden, no céu ou na terra?

6) Em Zacarias 3:1,2 se encontra de novo no céu, acusando Josué...(???)

7) Em Jó 1:6 e 2:1,2 está de novo no céu tentando acusar Jó; (???) Ou seja, mesmo tendo sido expulso do céu por Deus, ainda tinha acesso a ele (????)

8) Em Mateus 4 já está na terra tentando Jesus...

9) Em João 12:31 ele é expulso para  fora do mundo....(???);


Vamos continuar.....


MARCELO VALLE




domingo, 20 de outubro de 2013

DEPENDENCIA TEOLÓGICA - O QUE É ISTO?

Continuamente sou alvo de "conselhos" por parte de determinadas pessoas, querendo mostrar-me o "caminho", sendo que elas mesmas nem sabem em que caminho estão andando. Fato que constatei por simples observação.

Gosto de questionar o que me dizem (me refiro aqui a questões religiosas), para ver se não estou pisando em terreno arenoso e confrontar a informação com as escrituras, dentro do que aprendi. Eu discuto "ideias", não "pessoas". 

Ninguém pode se apresentar como "senhor absoluto da verdade", até porque a verdade como conceito é algo relativo e subjetivo. O que é verdade para um cristão, pode não ser para um budista, por exemplo.

Portanto, quero deixar claro que, com a produção deste pequeno artigo não estou querendo denegrir nenhuma denominação e nem a imagem das pessoas que as frequentam, embora pareça estarem as vezes interligadas, mas a intenção não é esta.

Cada pessoa é livre para seguir à igreja que se sentir melhor, o que eu não gosto e que não concordo é ter que ser coagido a seguir ou aceitar algo que não me sinto à vontade, ou que em minha compreensão não se tornou inteligível. Tenho direitos também de seguir ou não!

Tenho percebido ao longo da minha caminhada que as pessoas possuem uma "Dependência Teológica" em relação a denominação a que pertencem. Criaram uma espécie de "muleta", onde não conseguem, de jeito nenhum,  andar sem ela.

E o que caracteriza isto?

Normalmente o que caracteriza esta dependência é quando se observa uma pessoa ou denominação (religiosa) dentro das seguintes condições:

1 - Sua denominação é a "única" que prega a verdade; (As outras ensinam o erro).

2 - Fora de sua igreja não há salvação; (Só está salvo quem está em sua igreja).

3 - Criação de "jargões" orais, onde predomina o uso repetitivo que é copiado por todos; (Todos passam a falar e fazer coisas que ouviram de outros, mas não tem o minimo de respaldo bíblico, o fazem por imitação).

4 - O que é dito pelo "líder" deve ser aceito sem questionamento; (Alguns até tem o status de profeta).

5 - Uma suposta "inspiração pelo espirito Santo", que dá o status de autoridade a qualquer palavra pregada; (Desprezo pelo estudo minucioso da bíblia, ou quando o fazem, sempre tendo como palavra final a tradição).

6 -  O ensino de sua igreja sempre emana de um corpo diretivo principal. (Normalmente a "suposta" igualdade doutrinária na verdade não passa de manipulação para enganar os fiéis).

Das 06 condições que apontei acima, a última todavia me parece a mais perigosa. Onde há um corpo diretivo principal, de onde saem as "doutrinas" para guiarem as pessoas, normalmente estas são elaboradas sem um estudo bíblico abalizado e as pessoas têm que aceitar este ensino sem poder questionar sua validade. Isto sem dúvida não procede das escrituras. Basta conferir Atos 17:11 para derrubar esta ideia. 


O texto afirma que os "Bereianos" receberam de bom grado a palavra, mas o fizeram após um exame "diário" das escrituras para ver "se estas coisas eram assim". O contrário também é válido: Se o ensino não estiver de acordo as escrituras, não deve em hipótese alguma ser aceito.
Mesmo os ensinos do grande Apóstolo Paulo eram examinados à luz das escrituras para verificarem sua validade.

Estas são características gerais que pertencem às denominações que se apresentam como exclusivas, como únicas. 

Interessante apontar um principio utilizado pelo judaísmo caraíta, que deveria ser também utilizado pela maioria destas denominações na atualidade, que é:


"Examinais as Escrituras e não confieis em minha opinião. Afinal de contas, cada um de nós é responsável por suas próprias decisões e atos, é importante que cada um de nós examine os problemas religiosos que acompanham nossa vida diária". 

Um principio importante, pois frisa muito bem que cada pessoa é responsável pela opinião que emitir e que você deve por si mesmo buscar compreender e avaliar a temática conforme as [suas] condições. Quem conhece e vive sua vida, é você mesmo e ninguém melhor do que você, pode avaliar sua situação!


Por exemplo, será que é correto praticar determinadas ações, somente porque a minha denominação proíbe?  O que a igreja proíbe é sempre o que a bíblia proíbe? Eu percebi que o que está certo para a "igreja" nem sempre está certo para a "bíblia". E também, que o que é certo passa a ser errado, e o que é errado passa a ser certo quando avaliado sob a ótica da doutrina eclesiástica e não da bíblia.


Eu sei que muitos não vão aceitar o que estou dizendo, mas, desculpe a sinceridade, é porque você também é mais um medroso que não consegue caminhar com os próprios pés, porque pensa que já ouviu ou que já leu toda a verdade bíblica, mas na realidade o que você segue são ensinos formulados nos concílios eclesiásticos, mas você acha que está seguindo a bíblia, tem medo de confrontar sua crença....Leia mesmo estas palavras e sinta pavor, talvez acorde!!!

Óbvio que podemos buscar a opinião de outros que possuem um maior conhecimento em determinado assunto, mas isto não nos exime de confirmar se esta ou aquela opinião é válida. Devemos verificar sempre se a interpretação procede e se tem base bíblica, afinal, o principio protestante clássico é : Sola Scriptura

Mas parece um tanto esquecido este princípio, afinal é melhor sentar no banco e ouvir o líder pregar, é mais cômodo. É mais comodo também, seguir a revistinha de escola dominical ou sabática, porque ela já está prontinha, é só engolir!

Particularmente penso que as pessoas que se mantem nesse patamar religioso e eclesiástico são pessoas que no fundo gostariam de dizer e fazer o que estou dizendo e fazendo aqui, mas elas têm medo. Elas tem medo de "cair", porque se abandonarem sua muleta, como poderão andar? Se esqueceram, porém, que as duas pernas que possuem estão em pleno vigor físico...Elas querem "voar", mas o que vão fazer se perceberem que outros vão olhar para ela (e) e vão condená-la (o)? 


Engraçado é que se alguém decide "tomar do fruto e comer" para que os olhos se abram e seja como Deus sabendo o bem e o mal [Genesis 3:5], logo é visto como o transgressor, o pecador, aquele que merece ser exilado para fora do jardim....
Talvez a queda de Adão não tenha sido mesmo uma queda, quem sabe? Talvez tenha sido uma queda para cima, quem sabe?

Outro detalhe que vejo neste complexo eclesiástico, as doutrinas colocam Deus dentro de uma caixinha e dizem para ele: Fique ai e só aja de acordo ao que nós dissermos.

Deus é restringido ao que a denominação diz. 
Ele só ouve sua oração dentro dos moldes exigidos pela denominação.  
Ele só atende você se estiver vestido à maneira exigida da denominação.  
Ele só escuta a música da denominação.
Ele jamais atende quem não estiver ligado à denominação...
Ele só se apresenta dentro do templo erigido da denominação, pois não poderia se apresentar fora dele. 
Ele é tirano, maltrata quem erra e tira a liberdade de quem o desobedece..
Ele é cruel e vingativo!!
Ele, enfim, é um Deus (ou deus) pequeno, impotente, pois não tem liberdade de ser quem Ele deseja ser. 

Eu estou sendo bem ousado em minhas afirmações e se for apedrejado [num bom sentido] por isto, não estou nem um pouco me importando. Não tenho dívidas com ninguém e nem estou interessado em fundar nenhuma denominação. Para quê? Já existem tantas, aos milhares!! Há gosto doutrinário para tudo! E, também, se alguém discordar de mim, não me importo com isso...Minha vida pertence a Deus!

Mas, penso que as pessoas deveriam refletir melhor a respeito do que creem e como creem, pois o Eterno, o Criador do céu e da terra não habita em templos feitos por mãos de homens [Atos 7:48,49], pois ele habita em mim e em você, onde você estiver. 

Estás ligado a Deus? Então, sem duvida ele estará ligado a você..E não me venha por favor, dizer que eu não estou, somente porque não pertenço à sua ou à outra denominação....Isto não está na bíblia, nunca esteve!

Você pode estar "dentro" da igreja, mas Deus pode não estar "dentro" de você. Você pode andar direitinho de acordo as doutrinas de sua denominação, mas não estar "andando" com Deus. Porque Deus não se limita as regrinhas criadas pelos homens. Ele é mais, muito mais do que isso. Ele vai mais além!

As igrejas limitaram a soberania e ação de Deus. Nele estão a vida e a morte, o bem e o mal, a cura e a doença, a bênção e a maldição. [ Deut. 30:15; Isaías 45:7; Deut. 32:39; Deut. 11:26 e Apocalipse 22:3].

Se este Deus que eu ora apresento não é suficiente para você, pois você ainda precisa das regrinhas para você andar, sinto muito, mas para mim é este o Deus da bíblia. Ele é suficiente para mim.

Está aí minha reflexão!

Que o Eterno Deus ilumine a mente de todos nós!

Marcelo Valle